Em 2007, o New York Times publicou um artigo chamado Freud is Widely Taught at Universities, Except in the Psychology Department (Freud é Largamente Ensinado nas Universidades, Exceto no Departamento de Psicologia). Eu era professor de Psicologia numa faculdade da Nova Inglaterra, e foi fácil para mim verificar essa afirmação. Eram meus colegas nos Departamentos de Inglês e Teatro que tinham mais probabilidade de se engajar em análises freudianas de obras literárias e teatrais, do que nós, na psicologia, de dar aulas sobre Sigmund Freud ou psicanálise.
Mais recentemente, em 2018, Siegfried Zepf, na revista Psychodynamic Psychiatry, descreveu a psicanálise como “uma ciência sem verdade, isto é, uma pseudociência”. Esse tipo de crítica não é surpreendente quando vem de fora da área, mas Zept foi diretor do Instituto de Psicanálise, Psicoterapia e Medicina Psicossomática da Universidade de Saarland, Alemanha.
As fragilidades da psicanálise continuam a ser mesmas identificadas pelo filósofo da ciência Karl Popper em seu livro A Lógica da Pesquisa Científica, de 1959. Popper dava grande ênfase à observação e à experimentação, e introduziu o conceito de falseabilidade. De acordo com essa visão, uma teoria só é científica se for possível identificar algum resultado observável que seria inconsistente com as previsões da teoria e, como consequência, torne falsa a asserção. Os resultados potenciais de qualquer experimento ou observação deveriam ser separados entre os que apoiam a teoria e os que não a sustentam. A química, a física, a biologia e a psicologia objetiva (não-introspectiva) atendem a esses requisitos, mas a psicanálise, não.
O Sistema de Freud inclui entidades hipotéticas – id, ego e superego –, bem como vários processos inconscientes hipotéticos, que não podem ser observados no mundo físico ou em exames do cérebro por imagem. Além disso, Freud propõe uma teoria de desenvolvimento psicossexual em estágios e afirma que as pessoas que não progridem normalmente através desses estágios podem acabar com “fixações” orais ou anais. Como o processo básico da terapia é a interpretação – análise –, um analista perspicaz pode encaixar qualquer forma de comportamento na teoria. Como resultado, Popper classificou a psicanálise como “pré-científica” ou “pseudocientífica”.
Há muitas décadas, nos EUA, a psicologia e as áreas da psicologia e assistência social descartaram a introspecção e outros métodos subjetivos de análise, em favor do modelo “prático-científico” e terapias baseadas em evidências. Essa abordagem se reflete na grade curricular dos profissionais dessas áreas, que têm aulas sobre desenho de pesquisa e métodos estatísticos, de forma que, na vida profissional, sejam capazes de ler e avaliar as mais recentes descobertas empíricas de suas áreas. No caso dos psicólogos que buscam um PhD, são obrigados a apresentar uma pesquisa original. Na esmagadora maioria desses estudos, os métodos terapêuticos utilizados são claramente descritos, de forma que possam ser reproduzidos por outros pesquisadores, e os resultados sejam objetivos e mensuráveis.
Em contraste, quando programas de graduação em psicanálise exigem apresentação de pesquisa, é mais provável que empreguem estudos de caso e métodos menos empíricos. Além disso, a natureza personalizada da terapia psicanalítica a torna pouco propícia à pesquisa objetiva. Em 2002, Glenn O. Gabbard e Drew Westen, em artigo no International Journal of Psychoanalysis admitiram que “não temos mais um consenso, em psicanálise, sobre o que funciona e porquê”.
Embora ainda seja praticada nos Estados Unidos, a psicanálise não é uma forma de terapia respeitada, em razão de suas fragilidades inerentes. Nos EUA, o atendimento em saúde depende de profissionais particulares, que são remunerados por seguros de saúde, igualmente privados. Isso inclui os serviços voltados para a saúde mental, desde que o profissional seja licenciado pelo Departamento de Saúde de seu estado. Psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais conseguem a licença, mas na maioria dos estados, psicanalistas não são elegíveis para a licença, e dependem de pagamento do próprio bolso dos pacientes.
Há profissionais da saúde mental que utilizam técnicas psicanalíticas com seus pacientes, mas além de pouca sustentação científica, a psicanálise não é uma abordagem prática. A maioria dos seguros de saúde limita o número de sessões, e a psicanálise convencional envolve várias sessões semanais, e se estende por anos. Como resultado, muitos terapeutas recorrem a métodos com resultados mais rápidos e com embasamento científico, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Sigmund Freud sempre vai merecer reconhecimento por ser um pioneiro no tratamento da saúde mental, que se afastou de métodos primitivos. Recentemente, ao participar de uma conferência em Viena, fiz questão de visitar o Museu Freud e a Universidade de Viena, onde lecionou. Mas da mesma forma que a astronomia rejeitou o geocentrismo e a noção de que a Terra está no centro do Universo, a ciência do comportamento humano descartou os conceitos de id, ego e superego.
Tudo bem se seu professor de Literatura pensa que o personagem daquele livro sofre de Complexo de Édipo, mas se você tiver um problema psicológico, melhor evitar o psicanalista e procurar um terapeuta que use uma técnica mais baseada em evidências.
Stuart Vyse é cientista comportamental e escritor. É autor de Superstition: A Very Short Introduction (Oxford, 2020) e Believing in Magic: The Psychology of Superstition (Oxford, 2014).