Resposta curta: não. Não existe evidência alguma de que seres extraterrestres tenham visitado a Terra em algum momento do passado, interagido com civilizações e povos antigos, ou que o façam no presente.
Uma análise cuidadosa mostra que toda a suposta “evidência” apresentada a favor da ideia de que alienígenas estiveram aqui no passado é, na verdade, feita de sugestões baseadas em supostas lacunas do conhecimento histórico ou antropológico: como “não sabemos” como a estrutura tal foi construída, ou o que o desenho ali representa, alienígenas parecem uma explicação tão boa quanto qualquer outra.
Alienígenas, portanto, são sugeridos como hipóteses que preencheriam certos espaços vagos na história humana. Há que se indagar, porém, se a hipótese é razoável, se mesmo sendo razoável, seria melhor do que eventuais hipóteses alternativas, e se as tais “lacunas do conhecimento” são de fato lacunas.
A razoabilidade da hipótese é, para dizer o mínimo, problemática. A Via-Láctea, galáxia que contém o nosso Sistema Solar, tem cerca de 100 mil anos-luz de diâmetro. A estimativa do total de estrelas varia, mas 200 bilhões é um número comumente citado.
Não existe nenhuma tecnologia conhecida capaz de percorrer um único ano-luz numa escala de tempo razoável, e há sérios motivos teóricos para supor que tecnologias assim são, de fato, impossíveis. Além disso, estimativas sugerem que há bilhões de planetas capazes de suportar vida similar à terrestre: portanto, mesmo se a tecnologia para viagens interestelares for factível e houver espécies interessadas em usá-la, a chance de decidirem vir à Terra – um mundo entre tantos bilhões –, e interagir conosco da forma como os “teóricos de antigos astronautas” sugerem, não é das maiores.
Diante disso, praticamente qualquer outra hipótese para explicar certos monumentos, textos, pinturas ou tecnologias do passado é, na falta de evidências contundentes, mais plausível do que a dos deuses astronautas.
Na verdade, as hipóteses que apelam para alienígenas antigos partem, todas, do mesmo erro -- o de tentar encaixar o passado histórico num esquema de referências ancorado na imaginação e no repertório disponíveis no presente: o fato de uma imagem evocar uma nave espacial ou um astronauta, quando vista com os olhos do homem moderno, não implica que ela tivesse o mesmo referente para nossos antepassados, séculos atrás.
Um caso típico aparece no exemplo acima, em que uma pintura rupestre pré-histórica encontrada na Itália se deixa confundir, com um pouco de imaginação, com uma ilustração de astronautas do tipo visto nas histórias em quadrinhos de meados do século 20. Se levada a sério, a "semelhança" exigiria uma explicação para o fato de alienígenas avançadíssimos usarem uma tecnologia análoga à imaginada por desenhistas de gibi, como nesta capa:
Um exemplo diverso do mesmo efeito de descontextualização por anacronismo é o das imagens de "viajantes do tempo" falando em telefones celulares que volta e meia são encontradas em filmes antigos, mas que na verdade mostram pessoas da época usando um tipo primitivo de aparelho de surdez.
Esse vício interpretativo já vem desde Chariots of the Gods (Carruagens dos Deuses), o documentário alemão de 1970 que apresentou ao mundo a tese, proposta pelo hoteleiro suíço Erich Von Däniken, de que as maravilhas arquitetônicas do passado distante foram construídas por – ou com a ajuda de – alienígenas. O filme deixa muito claro o racismo latente nesse tipo de tese, que depende do pressuposto de que povos "primitivos" (isto é, não europeus) seriam incapazes de erguer monumentos sem ajuda de povos "avançados" (se não dos lindos e louros europeus, de pelo menos de seres vindos de outro planeta).
Carlos Orsi é jornalista e editor-chefe da revista Questão de Ciência