Medo e delírios quânticos em São Paulo

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31 ago 2023
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Tudo começou com um anúncio na televisão veiculado no início de julho deste ano. Comercial num canal de notícias na TV a cabo convocava o público para participar do 10º Congresso Saúde Terapia Quântica (CSTQ), que aconteceria entre os dias 18 e 19 de agosto de 2023 em São Paulo, tendo como atração principal o biólogo americano Bruce Lipton, que o anúncio afirmava ser "um dos maiores e mais influentes cientistas do mundo". Até então, o único Lipton de renome mundial que eu conhecia era o chá...

Mas sou jornalista, e de ciência ainda por cima. Após breve pesquisa, soube que Lipton é inventor de uma tal de "biologia da crença", e me propus a fazer um perfil seu, de seus colegas de congresso e suas ideias para esta Revista Questão de Ciência. Meu editor-chefe, no entanto, achou ainda melhor me mandar conferir in loco o evento, produzindo uma etnografia do festival.

E que festival foi. Mediante o pagamento de módicos R$ 1.299,00 em seis vezes sem juros no primeiro lote (depois o preço subiu para R$ 1.399,00), tive acesso ao que supostamente de mais avançado e atual se discute no universo das terapias quânticas. Não que este conhecimento tenha sido útil, mas foi, digamos, "educativo".

A começar pelo público do congresso. Imaginava que seria um evento pequeno, com uma frequência típica de comunidades de interesses específicos que atuam nas franjas da sociedade. O que encontrei, no entanto, não podia ser mais mainstream. Na chegada, a fila da entrada dava volta no terceiro piso de um moderno shopping paulistano de classe média-alta. Felizmente, ela andou rápido, e logo me vi sendo recebido às palmas e gritos de "bom dia" por um animado grupo no lobby do teatro. Lá dentro, a ampla maioria das cerca de mil pessoas era de mulheres (estimo cerca de 85%), de jovens adultas a senhoras da terceira idade, todas sobriamente vestidas.

Este corredor de boas-vindas acabou me guiando justamente para a exibição de pôsteres do congresso, "arroz com feijão" de eventos acadêmico-científicos do tipo. Mas uma rápida lida nos títulos, resumos e referências dos "estudos" destacados mostrou que a ciência não passou pela porta do teatro, e a semelhança ficou por aí. Eram coisas como "Ryodaraku capta extrema ação tonificante floral em pacientes harmonizados com energia escalar pelo equipamento Morfus I" - falaremos dele daqui a pouco - e "Efeito do gel Oxyflower em hematomas e hemodinâmica" - também falaremos mais sobre ele depois -, além de alguns supostos "relatos de caso" que na melhor das hipóteses podem ser classificados como a chamada "ciência da fada do dente".

Daí tive que passar por uma verdadeira "feirinha quântica". Em estandes espalhados pelo local era possível encontrar todo tipo de produtos. Comecei pelo da empresa "Quantum Digital" e seus "pingentes informados" anunciados como "guardiões quânticos", peças de metal no formato de átomos de Bohr estilizados que trazem "a mais moderna tecnologia informacional, oferecida pela Evolução Quantum" e prometem estimular meu "campo informacional saúde, paz, abundância, amor, alegria, vigor, rejuvenescimento, disposição, prosperidade positiva, proteção, perdão, iluminação, equilíbrio e harmonia multidimensional" (sic). Tudo isso por apenas de R$ 116 a R$ 242, a depender do material que foram confeccionados.

Mal sabia eu, porém, o buraco de Alice que estava me enfiando. Logo também me foi oferecida a garrafa de alumínio "Aqua", que nada seria diferente de qualquer outra garrafa de água reutilizável não fosse uma peça plástica no fundo. Nela, o usuário encaixa cartões com tarjas magnéticas que podem "informar" a água para diferentes "campos de atuação", fosse "Espiritual", "Astral", "Mental", "Físico" e "Etérico". Preço? Só R$ 270 (mais do que um copo térmico Stanley que tanto faz sucesso entre cervejeiros hipsters moderninhos, mas divago...). E atenção: é bom garantir a sua logo, pois estão esgotadas no site e o estoque trazido para o congresso são as últimas unidades. Mas podemos negociar a compra em quantidades maiores para fornecer aos meus "pacientes" quando estiverem disponíveis de novo, claro.

Enfrentei tudo isso na tentativa de me aproximar do que era a grande "estrela" do estande, a "Morfus I". Sua aparência e destaque me remeteu à "máquina que faz 'ping!'", objeto de esquete do grupo de humor britânico Monty Python no filme "O sentido da vida", de 1983 (sim, referência de velho!). Segundo a simpática expositora, a Morfus I é a base do "ecossistema" da Quantum Digital. Com ela, posso não apenas diagnosticar rapidamente qualquer problema de saúde física, mental ou espiritual de meus pacientes, mas também "informar" eu mesmo pingentes, cartões magnéticos ou outros objetos para que usem como parte do meu protocolo de tratamento. Para isso, basta pagar R$ 3,4 mil por um curso de como operar a "máquina que faz 'ping!'", a qual receberei em regime de comodato. Mas só se eu fechar negócio ainda lá no congresso, pois pelo site é preciso enfrentar avaliação e fila de espera para receber a traquitana.

Continuo meu "tour" e logo me chamou a atenção o que parecia ser um filtro de água supermoderno. Fabricado pela empresa japonesa Enagic, fundada na ilha de Okinawa e hoje com sede em Osaka, ele produz "água Kangen" com diferentes pHs, de ácidos 2,5 a alcalinos 11,5. Ainda bem que são pHs virtuais por "manipulação do formato das moléculas de água", como me explicou um solícito colega congressista que se apresentou como médico, pois nestes extremos poderiam provocar queimaduras na boca, garganta e esôfago, sendo equivalentes a suco de limão puro de um lado, e água sanitária do outro.

Acabei saindo do estande com um copo de "água alcalina magnesiana" de pH 9,5, o mesmo de um antiácido estomacal, que apesar disso fracassou fragorosamente em aliviar a azia que sentia. Preço dos dois "baldes" de café que tomei antes de seguir para o congresso, e que só se foi após uma pastilha de carbonato de cálcio comum que, por precaução, já trazia comigo (não sou exatamente uma pessoa matutina, mas conheço meus defeitos). Não sem antes, claro, saber o preço de tal filtro: R$ 24 mil, com opções mais "em conta" - e com menos capacidades e funcionalidades, como a possibilidade de adição de sais minerais como a que tornou minha água "magnesiana" - saindo por R$ 17 mil e R$ 14 mil.

 

Clima de programa de auditório

Hora de deixar a feira, que as palestras vão começar. Antes, porém, um aviso e um pedido de desculpas deste escriba. Diante do uso e abuso da polissemia de palavras e malabarismo de conceitos como "energia", "frequência", "vibração" e outras do tipo pelos propositores e adeptos das "terapias quânticas", este texto já está cheio de expressões entre aspas, e daqui para frente vai ficar ainda mais. Sei que isso pode tornar a leitura cansativa, mas creio ser preciso destacar seus jargões pseudocientíficos para que não sejam confundidos com suas reais acepções.

Pois bem. Com a plateia no primeiro piso do teatro lotada, eu e meu companheiro de desventura, o físico e professor da Unesp Marcelo Yamashita, diretor científico do Instituto Questão de Ciência (IQC) - que publica esta Revista Questão de Ciência -, vamos parar num camarote do segundo andar. Mas nossa estadia no local dura pouco. Enquanto diretores da empresa patrocinadora do congresso fazem seus discursos de praxe na cerimônia de abertura, com agradecimentos aos presentes, expectativa com as apresentações que virão etc e tal, uma "colega" congressista atrás de nós tossia frequentemente, e sem qualquer preocupação com etiqueta respiratória, como cobrir a boca. Dada a suspeita de que estávamos junto a um público de tendência antivacina - o que viria a se confirmar posteriormente por declarações dos palestrantes e as reações da plateia -, buscamos refúgio numa frisa, no ainda um tanto vazio terceiro andar.

Instalados - e isolados -, chegamos bem a tempo de acompanhar o último dos discursos da abertura. Apesar de se identificar como "doutora", o nome da apresentadora, sócia e fundadora da empresa patrocinadora do congresso, não consta das bases de dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), tampouco tem currículo na Plataforma Lattes. A única referência que encontrei à sua possível educação universitária é um registro "cancelado ou licenciado" do Conselho Regional de Biologia da 7ª Região (PR).

Ela mantém o clima de animação de auditório e reforça a noção de que as pessoas que lá estão são de alguma forma "privilegiadas" e "especiais". E não demora muito para o evento dar uma guinada para culto religioso. Após convocar "anjos, arcanjos e querubins", ela convida a plateia a criar um "campo quântico" no teatro que seria capaz de "fazer um hidrelétrica funcionar com nossa energia". Mais que isso, porém, ela pediu para transformar a atmosfera do local em "oxigênio puro", o que, ainda bem, não conseguiu, ou o teatro entraria em combustão espontânea à mínima fagulha, tal qual o incêndio que vitimou os astronautas na cápsula da Apollo 1 em 1967.

 

Pseudociência e camelotagem

Começa então a primeira palestra de cunho "acadêmico-científico" do congresso. Formada em medicina, mas hoje com os registros cancelados e "dedicada à área acadêmica", a palestrante se propôs a falar sobre os "Dez anos de ciência" das terapias quânticas com um apanhado das dez edições do CSTQ. Mas embora tenha destacado corretamente a importância para o método científico de conceitos como "observação e pesquisa metódica e racional" da realidade e reprodutibilidade, o pouco de ciência que por acaso tenha conseguido se infiltrar no teatro não demorou muito a sair correndo porta afora.

A começar por nova guinada da apresentação para culto religioso. Depois de cantar loas à gratidão como um sentimento com "poder sobre quase tudo", a chamada "dama dos quânticos" pede para os presentes gritarem em uníssono "yes!" ("sim!") como forma de atrair as "energias positivas" do Universo. Para além de um filme hollywoodiano de comédia com Jim Carrey de 2008 que tem como mote uma cena semelhante, me escapa a razão de usar a palavra inglesa. Será a energia do Universo gringa?

De volta à suposta "ciência", segundo ela, como diversos experimentos em laboratórios de física pelo mundo já teriam comprovado que "tudo é energia", isso já serviria como "fundamento" para dizer que as terapias energéticas funcionam, num salto (i)lógico que ainda seria muito repetido por outros palestrantes ao longo do evento. O conspiracionismo que também marcaria muitas das palestras posteriores também logo deu as caras. Após anunciar que não tinha se vacinado - suponho que contra a COVID-19 -, pelo que recebeu aplausos efusivos da plateia, ela também faz críticas à "Big Pharma", que promove um "massacre" da "ciência" das terapias quânticas por pessoas "replicando as ideias do sistema".

Segue uma sequência de supostos ensaios clínicos e relatos de caso publicados nos anais de congressos anteriores da "Revista Saúde Quântica". Ainda de acordo com ela, como a publicação tem registro na Biblioteca Nacional, isto por si só é suficiente para legitimar as pesquisas apresentadas (não é) e "garante que os resultados existem e são reprodutíveis" (não e não).

Sua palestra também evidencia que grande parte do público de fato acredita no poder das terapias quânticas, descartando as suspeitas de charlatanismo - crime que exige que seu perpetrador saiba que os produtos que vende não funcionam -, mas reforçando as de curandeirismo. Em pelo menos duas ocasiões, a menção a determinados "florais quânticos", como o tal do Oxyflower, e questionamentos sobre se a plateia os usava pessoalmente são recebidos com respostas afirmativas e entusiasmo que viriam a se confirmar no intervalo do almoço, quando todo estoque de produtos trazido pela patrocinadora do congresso já havia se esgotado em seu estande, com promessas de novas remessas chegando no dia seguinte.

Aos poucos a palestra "acadêmico-científica" vai chegando ao fim, com características que se repetiriam nas outras apresentações durante o primeiro dia do congresso: resultados "milagrosos", conspiracionismo, distorção de termos científicos e camelotagem, com venda de cursos, livros e/ou produtos. Coisas como um "protocolo pós-Covid" especial para "prevenção de novos vírus que estão no laboratório" e vão ser soltos na população "a qualquer momento", ou a "ciência da física quântica aplicada à qualidade de vida" que a cada vez que era citada fazia Yamashita, ao meu lado, se contorcer, em sofrimento ou para segurar as gargalhadas.

E não é por menos. O segundo palestrante, por exemplo, se definia como "autodidata" em física quântica e espiritualidade - não cheguei a saber se juntas ou separadas. Também médico por formação, ele focou sua apresentação em uma versão própria do que chamou de PsicoNeuroImunologia (PNI), que disse ser uma "novidade milenar" (sic). Embora parte do que tenha abordado seja objeto de estudos sérios, como a conexão entre o microbioma intestinal e certas condições físicas e mentais, ele também logo se perde no discurso das terapias energéticas, que seriam "tão importantes quanto a remediação". Confesso que em determinado momento não conseguia entender bem o que ele queria dizer, não sei se por problemas de dicção ou porque era tudo "abobrinha". Mas na hora de convocar a plateia para se juntar à sua "Comunidade Integrativa" (e paga), ele com certeza foi muito claro.

A palestrante seguinte, por sua vez, quase fez Yamashita ter uma síncope. Apresentando-se como acupunturista e "pesquisadora" - não disse de quê -, ela foi a primeira no congresso a citar experimentos de fenda dupla - como os realizados pelo polímata britânico Thomas Young no início do século 19 - que observaram o caráter dual de elétrons e fótons, que ora agem como partículas, ora como ondas. Tudo para misturar conceitos físicos reais como frequência e interferência numa barafunda pseudocientífica - é dela o estudo que resultou no citado pôster intitulado "Ryodaraku capta extrema ação tonificante floral em pacientes harmonizados com energia escalar pelo equipamento Morfus I" - que culmina, claro, em um pitch de vendas de cursos sobre "florais frequenciais" cujo uso deveria ser "obrigatório" para o tratamento das mais variadas doenças, inclusive câncer, ou de um tal de "aterramento nutrição eletrônica meridional" por "promocionais" R$ 600 cada.

 

Tarde indigesta

Depois do intervalo para almoço, o congresso perde de vez o rumo "acadêmico-científico", entrando numa montanha-russa pseudocientífica indigesta. Dentista, o primeiro palestrante da tarde mistura odontologia com acupuntura para chegar a uma variação da pseudociência da reflexologia. Segundo esta "Odontologia Sistêmica", cada dente estaria relacionado a um órgão do corpo via os meridianos da acupuntura, com as obturações convencionais de amálgamas metálicos agindo como pilhas e provocando "curto-circuitos" na energia dos pacientes, podendo causar doenças como Alzheimer. Não por acaso, a remoção de tais obturações é um dos principais serviços oferecidos por sua clínica.

Já a palestrante seguinte é psicóloga por formação, mas nos últimos anos sua atuação profissional envolve nutrição, mais especificamente dietas baseadas no tipo sanguíneo da pessoa. A princípio, seu discurso ligando genética à nutrição, e estas à ocorrência de doenças, até faz sentido. Mas não por muito tempo. Sem apresentar nenhum estudo ou referência, ela alega que cada tipo sanguíneo tem uma bioquímica própria, justificando dietas específicas. De toda forma, segundo ela todos os problemas de saúde são causados por lectinas, proteínas encontradas em diversos alimentos, sejam de origem animal ou vegetal. A solução, óbvio, é um floral quântico, "indicado para todos os tipos sanguíneos". Conceito que exclui o fator RH. Não me pergunte por quê.

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Mas foi na sua palestra que finalmente "aprendi" que os florais quânticos em gel têm como um dos principais locais de aplicação a região do cóccix, por uma razão específica: segundo os adeptos das terapias quânticas, dali eles teriam mais chances de serem absorvidos e "informarem" as células-tronco produzidas na medula óssea! Terminando a apresentação, a palestrante, claro, não deixa escapar a oportunidade de vender livros de sua autoria.

E o congresso continua, agora com palestra de um sujeito com camisa e calça tão apertadas que pareciam que iam explodir, ou, como apelidei, o "show do bombadão". Apresentando-se como "doutorando em ciências da saúde, biohacker, nutricionista e terapeuta holístico", entre outros "predicados", ele promete ensinar ao público como ter "mais energia, longevidade e músculos". A "receita", no entanto, já desanda logo no começo da apresentação, com uma comparação sexista e etarista entre os atores Tom Cruise e Kelly McGillis para ilustrar a diferença entre idade cronológica e biológica.

Coestrelas do filme "Top Gun", de 1986, McGillis, hoje com 66 anos, é mostrada como uma mulher "acabada" e sem atrativos em 2022, enquanto Cruise, cinco anos mais novo, é louvado como exemplo de envelhecimento saudável, um homem que "não fica pegando células-tronco de crianças, um cara do bem, correto, de direita", numa variação do clássico "comunista come criancinha". Segundo ele, diferença seria explicada por hábitos de vida.

Uma meia-verdade que abre caminho para uma enxurrada de picaretagens. Segundo o palestrante, o segredo passa por "biohacks" naturais e tecnológicos. A primeira lista até traz algumas recomendações razoáveis, como uma boa higiene do sono e atividade física, mas logo se perde na pseudociência, como dizer que caminhar à beira do mar promove uma "troca de energia", já que a água é um "bom condutor elétrico" e "vai te recarregar" - fiquei com medo de levar um choque da próxima vez que for à praia. E vai piorando, com a indicação de uso de "florais quânticos", "óleos essenciais", "crioterapia", "pedras e cristais" e práticas meditativas e religiosas.

Já entre os "biohacks techs" recomendados não há um que se salve. Além de repetir os florais, óleos e crioterapia, a lista inclui ozonioterapia - cuja recente "liberação" ele comemorou animadamente -, bioressonância, biogênese mitocondrial e exames genéticos, entre outros. Destaque ainda para uma indicação que quase fez meu companheiro Yamashita ter outra síncope. Depois de abordar o real fenômeno da neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se recuperar de lesões e redesignar áreas para funções afetadas por traumas ou doenças, o palestrante defendeu que uma boa maneira de estimular isso é o uso de um certo "capacete infravermelho". Eu, do meu lado, não pude evitar imaginar o cérebro do pobre usuário "fritando" no calor e lembrar uma antiga propaganda antidrogas nos EUA dos anos 1980.

 

Sessão de terapia

Como de hábito, a palestra termina com uma oferta de curso e é hora de um breve intervalo, e de tentar dar um descanso para meu cérebro, um tanto desgastado pelo esforço para me controlar e não sair gritando do teatro. Uma movimentação na frisa do outro lado, porém, logo chama atenção. É um casal realizando algum tipo de intervenção em outra participante do congresso. Postados um na frente e outro atrás da mulher, fazem movimentos com as mãos como se regendo uma orquestra invisível, no que especulo ser um tipo de terapia "energética". Folgo em saber que não sou o único "atordoado" ali, ainda que provavelmente não pelos mesmos motivos.

Situação que não melhorou muito com as três últimas palestras do primeiro dia do congresso. A começar por mais um médico por formação - o que há com as faculdades de medicina do Brasil?! - e declarado autodidata em física e astronomia, mas que "estranhamente" abre sua apresentação com uma notória abobrinha envolvendo as duas áreas, a de que um suposto estudo da Nasa, a agência espacial americana, teria demonstrado que aerodinamicamente uma abelha não deveria ser capaz de voar. Com origem nos anos 1930, o mito ignora que uma abelha não é um avião, e portanto usa o bater e movimento de suas asas para gerar a sustentação necessária, além, claro, do fato de as abelhas estarem sendo vistas voando por aí há milhares de anos.

E como físico e astrônomo, o médico também parece ser um "ótimo" futurologista. Segundo ele, a partir de novembro de 2023 o desenvolvimento da computação quântica e do 6G dos celulares nos próximos dez anos fará a Humanidade "avançar mil anos em tecnologia", numa "aplicação prática do mundo vibracional". E que avanço será. Ainda de acordo com ele, se esta aplicação for "honesta", cegos vão ver, surdos vão ouvir e tetraplégicos vão andar (não, ele não estava cantando Falamansa), além da "cura do câncer ser algo tão banal quanto a cura de uma amidalite". É esperar quando novembro chegar.

Daí o palestrante emendou uma sequência de fatos e citações científicas que foi de observações astronômicas da Nebulosa da Tarântula (um berçário estelar na direção da constelação de Dorado, a cerca de 160 mil anos-luz da Terra) ao limite de Chandrasekhar (a massa de uma estrela anã branca grande o suficiente para que ela entre em colapso gravitacional e exploda em uma supernova, se transformando em uma estrela de nêutrons ou um buraco negro), passando por características espectrais de elementos até o desenvolvimento da física moderna, com a formulação da Teoria da Relatividade pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955) e da mecânica quântica por nomes como o também alemão Max Planck (1858-1947) e o austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961), e, mais recentemente, da Teoria das Cordas numa tentativa de unificar as duas últimas em uma "Teoria de Tudo".

Num exemplo rebuscado de raciocínio motivado, todo este arrazoado buscava legitimar as terapias quânticas com base em ideias como "tudo é energia" e opera em "frequências", "ondas" e "vibrações" por meio de características fantasiosas dos chamados "biofótons". Enquanto isso, ao meu lado, Yamashita não conseguia mais conter as gargalhadas. Esperar o quê? Afinal, a palestra foi intitulada "A Demonstração de que a Existência é um Fenômeno de Frequências"...

 

De mal a pior

Tivesse a apresentação ficado por aí, já teria sido ruim. Mas o que veio o seguir foi muito pior. O médico passou então a entabular relatos de supostos casos em que atuou usando terapias quânticas. Entre eles, um paciente de cinco anos de idade com tumor de Wilms, um câncer no rim que geralmente afeta crianças, em estágio avançado, com múltiplas metástases e expectativa de sobrevida de apenas seis meses, e no qual são indicados cuidados paliativos.

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Segundo o médico, ele aplicou um protocolo que começou com uma "desintoxicação", incluindo uma dieta do tipo sanguíneo já mencionada aqui, alimentação orgânica e enemas diários com café, além de uma extensa lista de florais quânticos - fabricados, claro, pela empresa patrocinadora do congresso e tem entre suas sócias e diretora-executiva (esqueci de mencionar) é sua esposa. O processo de "desintoxicação" envolveu ainda a substituição de todos produtos de limpeza e higiene pessoal usados pelo paciente por outros fabricados por mais uma empresa presente na "feirinha quântica" do congresso, e também fundada e gerida por sua esposa. Isso sim é uma família empreendedora...

Em uma segunda fase, o "tratamento" usou mais uma batelada de florais quânticos da empresa patrocinadora do evento, um esquema homeopático em injeções e uma beberragem com suposta ação vermífuga cuja posologia depende das fases da Lua e cujo registro não foi encontrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regula medicamentos e produtos para a saúde no Brasil. Mas também não faltou uma outra "máquina que faz 'ping!'", suplementos vitamínicos e soros. Ao final, garantiu o médico, o câncer incurável desapareceu e após três anos, o paciente "praticamente não fica doente".

Realidade ou ficção? Não há como saber. O palestrante não forneceu uma mísera referência ou indicação da publicação do relato de caso, nem mesmo na revista da área. O que pude pesquisar é que o tumor de Wilms, quando detectado precocemente, tem bom prognóstico, e apesar da suposta indicação de cuidados paliativos, pelo próprio relato do palestrante o paciente recebeu um tratamento não especificado durante seis meses, "com diminuição acentuada dos tumores" e remoção do rim afetado, antes de chegar a suas mãos.

Já o palestrante seguinte ganhou notoriedade no país pelo seu negacionismo na recente pandemia de COVID-19. Antivacina, o imunologista foi um dos principais disseminadores de desinformação sobre a doença e sua prevenção, sendo também um ferrenho defensor do infame, inútil e perigoso "tratamento precoce" com cloroquina e corticoides. Assim, não vou dar mais palco para suas sandices para além do título de sua palestra: "Nasce o Semideus: uma Evolução na Espécie". Imaginem daí o que veio.

E o primeiro dia do CSTQ se encaminha para o fim tomando o rumo definitivo de um encontro de auto-ajuda. Sob o tema "O DNA da Riqueza", o último palestrante se identifica como "educador, escritor, humanista e pesquisador da consciência e do comportamento humano" e retoma o clima de animador de auditório, exigindo resposta da plateia ao seu "boa tarde" que me remeteu a Sílvio Santos e suas "colegas de trabalho".

Prometendo "resetar a mente" do público após o longo dia de apresentações, o que se seguiu foi uma série de frases feitas e clichês, numa versão da "teologia da prosperidade" comum em certos cultos neopentecostais. Coisas como o velho papo do "problema não é o que acontece com você, mas o que você faz com o que acontece", "a vida não é um campo de batalha, mas um campo de possibilidades", "riqueza é o resultado natural de viver na frequência elevada da alegria genuína" e por aí vai.

Por fim, ele convidou a plateia a participar da primeira parte de um processo de "meditação profunda" cuja segunda iteração se comprometeu revelar em uma futura "sala secreta" no Zoom para quem se inscrevesse via seu perfil no Instagram - olha a camelotagem aí de novo! No teatro, o que vi foi um exercício de visualização e verbalização enquanto a trilha sonora fazia um crescendo dramático e o apelo à emoção por parte do palestrante era quase palpável. Tudo terminou com os participantes cumprimentando uns aos outros aos gritos de "você é extraordinário" e a execução da música "We are the champions", do grupo britânico Queen. A plateia, obviamente, foi ao delírio, ovacionando o apresentador.

 

Um guru "cientifilóide"

Já o segundo dia do congresso foi inteiramente dedicado a uma "imersão" com Lipton - o guru, não o chá. Chego no teatro e me instalo novamente isolado numa frisa no terceiro andar, desta vez sozinho. Yamashita capitulou. Azar o dele, vai perder a oportunidade de conhecer o segredo para viver até os 150 anos, uma das promessas do biólogo americano.

Aplaudido de pé pelo público empolgado, Lipton é como um Lair Ribeiro "cientifilóide". Propositor da "biologia da crença", ele defende que a mente é capaz de controlar o Universo e nossos corpos, podendo assim "alterar" o DNA e sua expressão, por meio da epigenética. Mas embora seja um mecanismo real de ativação e desativação de nossos genes, infelizmente não é assim que a epigenética funciona.

Dividida em quatro partes, a "imersão" começa apocalíptica, e com altas doses de desonestidade intelectual. Lipton alerta sobre o consumo voraz dos recursos do planeta pela Humanidade, baseado em estatísticas do Dia de Sobrecarga da Terra, calculado pela Global Footprint Network, mas que não recebe nenhum crédito da parte do biólogo. Em seguida, ele também puxa a "carta Nasa", citando estudo segundo qual a agência espacial americana teria afirmado que a "civilização industrial caminha para um colapso irreversível". Neste caso, Lipton não só "sumiu" com o ponto de interrogação da manchete sobre a pesquisa publicada pelo jornal britânico The Guardian em 2014 como ignorou esclarecimento da Nasa, feito ainda à época, de que não "solicitou, dirigiu ou reviu" o "estudo independente", que apenas "utilizou ferramentas de pesquisa desenvolvidas para uma atividade à parte" da agência.

Daí Lipton apresenta os quatro supostos "mitos" de percepção que pretende derrubar ao longo do dia de forma a pavimentar o caminho da audiência para viver até os 150 anos. E não é pequena sua ambição. O americano se propõe a demonstrar que os processos biológicos são calcados na física quântica; que os genes não controlam a biologia; que a sobrevivência não é questão de força, mas de aptidão; e que a evolução não é um processo aleatório, mas adaptativo - o que me põe a pensar que mesmo um relógio parado está certo duas vezes por dia.

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Para tanto, o biólogo lança mão de barafunda pseudocientífica muito similar às vistas nas palestras do dia anterior. Conceitos como "tudo é energia", ondas, interferência e campo se misturam a citações de cientistas famosos retiradas do contexto e alteradas para sustentar suas ilações, numa sequência de saltos (i)lógicos que, fosse a falácia retórica uma modalidade olímpica, Lipton seria um sério candidato à medalha de ouro. Suposta declaração de Einstein de que "o campo é a única agência governante da partícula" - muito usada por gurus Nova Era, mas para a qual não encontrei referências -, por exemplo, foi insistentemente repetida por ele ao longo do dia até se transformar em "a mente é a única agência governante do corpo".

Desta forma, segundo Lipton, a doença é culpa do doente e, se a "cura milagrosa" falha, é por sua culpa, que não acreditou ou teve fé suficientes. Da mesma maneira, de acordo com ele, o efeito placebo não só é real como "capaz de curar qualquer doença no planeta". Também não faltou conspiracionismo, com críticas ao que chamou de "indústria do câncer" - "não é medicina, é um negócio", afirmou, para aplausos gerais da plateia - e às medidas de prevenção da COVID-19, segundo ele um teste dos poderosos do mundo sobre o medo, pois "90% das doenças do mundo não têm nada a ver com genes, têm a ver com medo".

"A crise da saúde no planeta vem do estresse. Não da biologia do corpo, mas da mente", vaticinou antes do intervalo para o almoço, voltando a prometer a revelação do segredo da vida até os 150 anos para a parte da tarde da palestra. Já eu saí para comer pensando num roteirista de uma série ruim, que encerra cada episódio em suspense na esperança de manter a audiência para o capítulo seguinte.

O que encontro na volta, porém, é uma analogia do cérebro com um computador. "Somos todos programados", diz, para emendar uma teoria da mente baseada numa dicotomia entre consciente e inconsciente que faria até Freud - já criticado nesta Revista Questão de Ciência pelo caráter pseudocientífico de sua psicanálise - enrubescer de vergonha. Segundo ele, o subconsciente é como um gravador-reprodutor, um disco rígido que responde por 90% de nossa mente e em que vamos "baixando programas", num processo que começa no útero e vai até os sete anos de idade. Já a consciência e o pensamento, a reflexão - os 10% restantes da mente - só viriam depois, tendo como evidência disso exames de eletroencefalograma e a ocorrência de ondas cerebrais de diferentes frequências (e olha as palavras-chave aí de novo).

Preciso ir ao banheiro e, sem Yamashita ao meu lado, temo perder o momento da grande revelação do segredo para viver até os 150 anos. Volto e, para meu alívio, tenho certeza que não: Lipton continua a falar da "mente secreta" do inconsciente/subconsciente e da "programação" de que somos "vítimas" e nos faz pensar que "não somos merecedores" da felicidade. "Você não está vivendo seus desejos!", diz. E a culpa é dos seus pais (Freud aprovaria...), da cultura, dos médicos e da Igreja e do clero, todos, segundo ele, os "provedores da verdade" com os quais você cresceu.

"Você foi programado por estas pessoas", afirma. "Culpamos os outros pelo que acontece com a gente, mas é porque não vemos nossos programas atuando".

Neste sentido, complementa, Matrix não é um filme de ficção científica, mas "um documentário". Por sorte, porém, ele está ali para oferecer a todos a "red pill", a pílula vermelha que vai nos tirar do mundo da ilusão e nos fazer "ver a realidade". "Todos aqui já começaram a fugir do programa", finaliza a terceira parte da "imersão", num apelo à emoção e aceno para a plateia, conhecedora de um saber "especial".

Último intervalo, e na retomada da imersão espero finalmente conhecer o segredo de Lipton. Mas o que recebo é tão útil quanto um saquinho de chá usado. Segundo ele, para "criar o céu na Terra" precisamos mudar nossa "programação". E para isso, o primeiro passo é fazer uma "revisão da mente consciente", porque "você cria com o pensamento": "Acredite e você será saudável"; "Pegue o programa e o torne real"; "Se tem câncer, sobrescreva com algo positivo"; "Não é 'quero ser saudável', é 'sou saudável'", aconselha.

A seguir, faça uma "revisão da mente subconsciente". Como? Ora, se 90% da mente é o subconsciente, 95% da vida é o programa (o porquê da mudança na proporção passou inexplicado). Auto-hipnose e uso de headphones durante o sono "tocando o programa que quer que seja verdade" são alguns dos caminhos indicados por ele para "reprogramação do subconsciente" via mensagens "subliminares". Detalhe que ninguém captou as que eu trazia estampadas nas minhas camisetas nos dois dias do congresso: "Quem desconfia fica sábio", citação de "Grande Sertão Veredas", de Guimarães Rosa; e "Nosce te ipsum" (latim para "conhece a ti mesmo"), uma das "máximas de Delfos", escritas no Templo de Apolo da Grécia Antiga, e objeto de discussões de filósofos há séculos.

blip machine

Outros caminhos, acrescenta, são meditação e a chamada "psicologia energética", técnica não comprovada que mistura princípios da psicoterapia e da medicina tradicional chinesa (MTC), como energia chi e meridianos, e que de tradicional não tem nada. Nesta seara, Lipton propõe exercícios e posturas como cruzar braços e pernas de forma a forçar os dois hemisférios do cérebro, onde supostamente o consciente e o inconsciente ficariam separados, a "trabalhar juntos".

O biólogo americano então parte para uma demonstração do "poder" destes exercícios. Com a colaboração de um "voluntário" da plateia, Lipton demonstra suposta diferença na força do posicionamento do braço dele quando responde perguntas com verdade ou mentira, afirmações ou negações e gostos e desgostos.

"Quem precisa de psicologia e psicanálise tradicionais, com suas sessões longas em que o paciente fica repetindo o trauma que o deixou fraco? Ficar contando só torna o problema pior", afirmou. "Por isso esta nova psicologia energética é tão poderosa".

É, se os psicanalistas estão furiosos com as críticas da RQC à sua prática, imagina o que dirão de Lipton agora...

Por fim, Lipton aborda a importância da espiritualidade e da fé na sua "biologia da crença". E o que vem é mais uma sequência de analogias esdrúxulas. Comparando o corpo com uma TV, ele diz que o espírito é a "transmissão", que está sempre no "campo". Portanto, garante, a "reencarnação é uma realidade comprovada cientificamente". "Se seu corpo morrer, a transmissão ainda está lá. Ela só não está sendo 'tocada', 'exibida' pelo corpo", argumenta.

Diante de tudo isso, o biólogo americano volta a convocar a plateia a criar seu próprio paraíso. "A Terra é o lugar da criação. Não procure o paraíso no céu. O paraíso é aqui", conclui, para ser novamente ovacionado pelo público.

Mas o congresso ainda não terminou. Como último ato, um violino ao fundo começa a tocar "Imagine", de John Lennon, enquanto dançarinos circulam pelo ambiente no melhor estilo flashmob. Reunidos no palco, os palestrantes e representantes da empresa patrocinadora se juntam a eles ao som de uma outra música. Adivinha qual? Isso, "We are the champions", do grupo britânico Queen, novamente!

 

Uma reflexão final

Brincadeiras à parte, o assunto é sério. Muito já se escreveu aqui na Revista Questão de Ciência dos perigos das pseudociências, especialmente das ligadas à saúde. Apesar de o material do congresso afirmar que o evento "não se propõe a apresentar qualquer indicação terapêutica e/ou curativa", o que mais vi e ouvi nos dois dias do encontro foi justamente o contrário disso. O suposto caso da cura de um câncer infantil - "sem remédio!", destacou o palestrante, numa referência à medicina convencional - é apenas um dos exemplos mais gritantes desta contradição.

A verdade é que a oferta das terapias quânticas, assim como da homeopatia e outras práticas do tipo, pode levar ao adiamento ou demora na busca por tratamentos testados, comprovados e possivelmente eficazes para condições potencialmente graves, que assim podem realmente ficar "sem remédio", ou de abordagem mais complexa e cara. Na área da saúde, não existe bobagem inofensiva.

Sem contar os custos financeiros para os pacientes e o Estado. Apesar das críticas à "Big Pharma", a patrocinadora do evento também é uma empresa que visa o lucro. Seu estande na "feirinha quântica" não estava distribuindo produtos de graça, e nas farmácias seus preços são relativamente altos, principalmente se levarmos em conta que não passam basicamente de excipiente, sem qualquer princípio ativo real. E eles também podem ser oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) dentro da categoria de "florais", uma das 29 práticas pseudocientíficas que compõe a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).

E uma última consideração sobre o público. Muitas vezes ouvi lá que os adeptos das terapias quânticas são "livres", conscientes da influência do "sistema" e sua medicina baseada em evidências, que rechaçam com entusiasmado desprezo. Digo, no entanto, que são escravos da ilusão e da desinformação. Vítimas de aproveitadores e exploradores de sua credulidade, que saindo dali se tornarão algozes de outros incautos que venham a conseguir convencer de suas crenças em uma medicina "alternativa".

E eu poderia facilmente me tornar um deles. Como para ser "terapeuta quântico" não é necessária nenhuma formação específica, bastaria ter comprado uma das "máquinas que fazem 'ping!'" e exercitar minha capacidade de enrolação com base nos muitos clichês e frases feitas lá apreendidos para começar a atender pacientes, tendo o recebido certificado de participação no CSTQ orgulhosamente emoldurado e pendurado na parede como "prova" da minha capacitação. A única coisa a me impedir é minha ética pessoal.

 

ATUALIZAÇÃO: Este texto foi modificado em 13/09/2023 para indicar o recebimento do certificado de participação no 10º Congresso Saúde Terapia Quântica (CSTQ) pelo autor. Eu, no entanto, permaneço convicto em não me tornar "terapeuta quântico". Minha ética pessoal ainda está no caminho.

 

Cesar Baima é jornalista e editor-assistente da Revista Questão de Ciência

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