O coronavírus não foi criado em laboratório! E agora temos um estudo científico para comprovar isso.
O novo coronavírus (SARS-CoV2), detectado pela primeira vez na cidade de Wuhan (China), é o produto da evolução natural. Toda vez que o vírus se replica, ele tem que fazer uma cópia do próprio material genético. Assim como cometemos erros ao redigir um texto, os vírus também não fazem um simples copia/cola do seu genoma, e acabam sofrendo mutações por conta disso.
No texto sobre vacinas da gripe, já comentamos, com muito mais detalhes, todo esse processo. A novidade descoberta por cientistas dos EUA, Reino Unido e Austrália, e anunciada no periódico Nature Medicine, é que eles identificaram em qual estrutura do vírus ocorreu a mutação que deu origem ao SARS-CoV2, que está causando estrago pelo mundo atualmente. Na figura abaixo, temos uma ilustração apontando onde está a mudança que foi detectada pelos cientistas.
Essa estrutura, chamada “spike”, é uma proteína, localizada lado de fora do vírus. Ele a utiliza para se prender nas células hospedeiras, e invadi-las. Uma mudança na forma da proteína pode fazer com que o vírus consiga infectar uma espécie diferente de hospedeiro. Os autores do estudo sugerem três hipóteses para a mudança, e para o início do surto:
1) O vírus passou a ser patogênico em hospedeiro não humano (morcegos e/ou pangolins). Em seguida, adquiriu a mutação no “spike” e começou a infectar os seres humanos.
2) A mutação ocorreu primeiro no “spike” – isto é, o vírus primeiro se tornou capaz de infectar seres humanos – e, após contaminar algumas pessoas, sofreu outras mutações, e só então passou a causar a doença COVID-19.
3) Um terceiro cenário analisado pelos autores é de o vírus ter sofrido mutações cruciais, por acidente, em culturas de laboratório, e em seguida ter escapado. Essa hipótese, no entanto, é apontada como a menos provável: entre os motivos, os autores apontam que seria necessário haver, em cultura, algum vírus muito parecido com o SARS-CoV2, e nada assim jamais foi descrito na literatura especializada.
Caso a hipótese (2) seja a correta, temos que continuar atentos para a probabilidade de futuros surtos, pois a cepa original do vírus, inócua para animais, ainda pode estar circulando nos hospedeiros originais, e em algum momento, saltar de novo para a espécie humana.
Os autores do estudo apontam, ainda, que a interação dessa nova proteína com as células humanas é menos eficaz do que a de outros coronavírus que atacam seres humanos, como o que causou a SARS em 2002. Se o vírus fosse artificial, projetado para lançar uma pandemia, teria feito muito mais sentido utilizar a estrutura de montagem do coronavírus de 2002. O SARS-CoV2 não traz sinal nenhum de ter passado pelos processos tradicionais de laboratório que pesquisadores normalmente usam para “montar” e “desmontar” vírus em seus estudos.
E convenhamos, se algum laboratório secreto estivesse tentando projetar um novo vírus para causar uma pandemia global, seria muito mais eficaz construir a “arma” a partir de um vírus já conhecido por causar doenças mais sérias, em vez de apenas mudar uma estrutura externa de um vírus que circula em animais e esperar para ver o que acontece.
Luiz Gustavo de Almeida é doutor em microbiologia e pesquisador do Laboratório de Genética Bacteriana do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, e atual coordenador nacional do Pint of Science no Brasil