Enquanto começo a escrever este texto, o Rio Grande do Sul enfrenta o maior desastre natural da história do estado, e um dos maiores do tipo já registrados no país. Dias de fortes chuvas fizeram transbordar rios e barragens por todo interior gaúcho, deixando um rastro de destruição em várias cidades. Água que não tardou a chegar ao Rio Guaíba, que banha Porto Alegre, e logo também atinge a Lagoa dos Patos, inundando a capital e colocando em risco comunidades ribeirinhas.
Cem pessoas já foram confirmadas mortas, e outras mais de cem estão desaparecidas. Número de vítimas que deve aumentar com as previsões de continuidade das chuvas e o já observado colapso dos serviços públicos. Boa parte da população não tem acesso a água potável, também falta energia em muitos lugares, e doenças transmitidas por água contaminada e mosquitos são uma ameaça presente.
É um evento sem precedentes, mas muitas de suas piores consequências poderiam ter sido evitadas, ou ao menos minimizadas, com a devida preparação. No momento, por exemplo, apenas quatro das 23 casas de bombas de Porto Alegre, que ajudam a deixar as ruas da capital secas, estão em funcionamento, permitindo com que ainda mais água de um arroio com o sugestivo nome de "Dilúvio" invada a cidade pelos bueiros, em um caminho contrário ao usual. Sistema idealizado e construído nos anos 1970, quando Porto Alegre tinha cerca de 1 milhão de habitantes, aproximadamente meio milhão menos que hoje, numa área - prevenção de enchentes - que não recebeu um centavo sequer de investimento do setor público no ano passado. E, apesar dos alertas dos meteorologistas, governos e boa parte da sociedade adotaram uma postura essencialmente reativa.
E é aí que entra em cena um campo científico relativamente novo, o de preparação para desastres. Uma ciência de interseções e ação, explica Jeffrey Schlegelmilch, diretor do Centro Nacional de Preparação para Desastres da Universidade de Colúmbia, EUA, que ganha ainda mais importância em um contexto de mudanças climáticas e crescente risco de novas pandemias. Ele compara a área de estudos à composição de uma música, em que as ciências da Natureza e da Terra e sua capacidade de fazer previsões, como a física e a meteorologia, se unem à engenharia e seus métodos preventivos de construção - como prédios resistentes a terremotos -, à ciência política e às ciências humanas para criar uma harmonia.
Para tanto, Schlegelmilch conta usar frequentemente uma equação em que o risco é igual aos perigos - isto é, as diferentes ameaças enfrentadas por uma comunidade em seu ambiente -, multiplicados pela vulnerabilidade - ou seja, a suscetibilidade de sofrerem danos consideráveis, seja à sua infraestrutura ou sua coesão social, por ação destas ameaças -, divididos pela capacidade dos indivíduos e comunidades de enfrentá-los, responder e se recuperarem de seus impactos - sua resiliência.
"A preparação para desastres não é uma ciência isolada, mas interseção de várias", diz. "É ver como determinados perigos interagem com este determinado ambiente construído e esta determinada comunidade de pessoas. É daí que vêm muitas de suas descobertas e lições. Ela é muito mais caótica que outras ciências, tem muitas variáveis em todos os níveis. É essencialmente saber quais são os perigos em um caso, de onde eles vêm, quais as vulnerabilidades daquele ambiente construído a estes perigos e quais as capacidades dos indivíduos ali de enfrentar estes perigos".
Reconhecendo riscos
Assim, a preparação para desastres também é um campo que enfrenta muitos desafios. Apesar de ter visto seu ato inaugural há pouco mais de cem anos, na publicação em 1920 por Samuel Prince (1886-1960) de uma análise sociológica de uma devastadora explosão de um navio cheio de munição no porto de Halifax, Nova Escócia, Canadá, três anos antes, os avanços na área foram lentos e dispersos, muito em função de seu caráter interdisciplinar, de ciência aplicada e da tendência humana de tomar ações reativas no lugar de preventivas. Diante disso, um dos maiores de seus desafios é justamente identificar e fazer com que governos e sociedade reconheçam os riscos que encaram.
"Vivemos em um mundo moderno que tem a ilusão da estabilidade e a realidade da fragilidade. Temos a tendência de ignorar sinais de instabilidade enquanto vivemos a rotina do mundo que criamos", escreve Schlegelmilch já na introdução de seu mais recente livro sobre o assunto, "Catastrophic Incentives" ("Incentivos Catastróficos", em tradução livre), publicado em outubro do ano passado.
"Por isso que muitas vezes as comunidades que mais estão preparadas para desastres são as que experimentam mais desastres. Elas vão criando estruturas para enfrentar estes desastres", complementa o também professor da Escola do Clima da Universidade de Colúmbia em entrevista à Revista Questão de Ciência. "Os perigos sempre estiveram aí, e sempre teremos alguém falando 'eu te disse!', mas no geral é difícil as pessoas processarem o que não veem no dia a dia. E é ainda uma barreira maior para nós sair de reconhecer estes riscos e de fato investir nosso tempo, atenção e dinheiro em algo que pode ou não pode acontecer, mesmo que provavelmente vá acontecer. Temos coisas mais urgentes para nos preocupar hoje, estradas que precisam ser reparadas, escolas que precisam ser construídas. Então equilibrar estes perigos com a incerteza de que podem ou não acontecer é difícil".
Mas nem sempre a ocorrência de um desastre é suficiente para levar os atores envolvidos - não só governos e gestores públicos, mas também iniciativa privada, organizações humanitárias e filantrópicas e a própria população - à ação na prevenção e mitigação de eventos semelhantes. Que o digam os próprios gaúchos, alguns dos quais estão vendo suas casas destruídas pela terceira vez em menos de um ano, e o décimo episódio de chuvas extremas no estado desde junho de 2023. Ou pesquisa recente do Ipec, que revelou que sete em cada dez brasileiros disseram já terem vivenciado ao menos um evento extremo associado às mudanças climáticas, com 34% expressando grande preocupação com futuras faltas de água e secas, e 23% com alagamentos, inundações e enchentes.
Neste ponto, a ciência da preparação para desastres encontra outro campo científico de desenvolvimento ainda mais recente, o da atribuição. No caso da atual tragédia no Rio Grande do Sul, ainda é cedo para termos estudos que liguem diretamente a ocorrência às mudanças climáticas, mas o caráter sem precedentes do que está acontecendo, como cair em 15 dias o equivalente à chuva esperada para até cinco meses em algumas localidades, e o fato de ser uma repetição de eventos similares de chuvas torrenciais em apenas um ano são fortes indicativos neste sentido.
"Às vezes também podemos ver uma falsa sensação de segurança", observa Schlegelmilch. "Um pensamento de 'já passamos por isso antes, e não foi tão ruim'. E este é um problema da prevenção de desastres no contexto das mudanças climáticas. Eventos extremos estão mais frequentes e intensos".
Diante disso, o especialista destaca a importância da regulação da ocupação urbana e de códigos de construção, que permitem pensar 30, 50, 100 anos à frente e levar em conta os perigos de construir em um lugar.
"Por outro lado, as pessoas também precisam ter um lugar para morar, que possam pagar e seja próximo de seus trabalhos, transporte etc. E, dependendo da situação, isto pode ser junto a rios ou em encostas. Vi no Peru - e sei que é assim em muitas grandes cidades do Brasil - que as pessoas constroem suas casas em morros, depois vem uma tempestade, um deslizamento de terra, pessoas morrem e elas constroem tudo de novo porque não têm outro lugar para ir", pondera. "Pensamos muito em termos imediatos sobre o que podemos fazer ou onde podemos ir para criar melhores oportunidades para nós ou nossas famílias. Muitas pessoas estão lutando para encontrar um lugar para ficar e estão dispostas a assumir riscos significativos por estas oportunidades, algo que não levamos em conta na legislação sobre desastres como deveríamos. Pode ser mais caro construir melhor hoje, mas é muito mais barato do que perder tudo e reconstruir enchente após enchente, ou qualquer outra ameaça que seja".
Não são desastres "naturais"
Por isso também que Schlegelmilch diz que não se deve referir a estas ocorrências como "desastres naturais". Ele dá como exemplo os casos de terremotos no Japão, EUA e Haiti. No primeiro, um tremor de magnitude 7,3 registrado em 2022 balançou prédios e deflagrou um alerta de tsunami, mas, com construções resistentes e quebra-mares no litoral, praticamente não provocou danos e deixou poucas vítimas. Já em Los Angeles, EUA, onde cresceu e viveu por anos, acostumou-se a enfrentar terremotos desta escala e ver alguns prédios e autoestradas construídos em regiões mais antigas da cidade, antes de regulações mais rigorosas, danificados ou destruídos, causando prejuízos da ordem dos bilhões de dólares.
"E aí temos o Haiti, onde um terremoto de magnitude similar (registrado em 2010) foi um dos piores desastres humanitários da história moderna. Centenas de milhares de pessoas morreram, e o governo colapsou literal e figurativamente", lembra. "Então este é apenas um exemplo de como o mesmo perigo, a mesma ocorrência da natureza, pode representar um desastre muito diferente com base apenas no ambiente construído. Os desastres não ocorrem só por causa de um perigo, mas como este perigo interage com a maneira como construímos e vivemos".
E aqui, mais uma vez, as mudanças climáticas aparecem como um elemento complicador, com a atividade humana passando a influenciar também a variável dos perigos e ameaças da equação de risco da ciência da preparação para desastres.
"Agora estamos influenciando a natureza, e isto afeta coisas como a quantidade de chuvas, a velocidade dos ventos e outras. Temos a atividade humana influenciando todas as três variáveis da equação de risco", argumenta.
Construindo resiliência
Desta forma, aponta Schlegelmilch, a melhor maneira de aumentar a resiliência das comunidades em um mundo de ameaças crescentes e mais frequentes é atuando sobre as variáveis da vulnerabilidade e da capacidade delas de enfrentar e se recuperarem de seus potenciais desastres. Primeiro, com ações de mitigação já bem conhecidas e testadas no ambiente construído, por exemplo, proteções contra enchentes como quebra-mares, diques e canais, e o uso da tecnologia, como sistemas de alerta antecipado de tempestades.
"Temos muita ciência da engenharia e soluções criativas nesta área, e novas aparecendo todo dia", celebra. "Mas elas são caras, e difíceis de construir em grande escala".
Por outro lado, destaca o especialista, estudos na preparação para desastres têm mostrado que um dos melhores preditores para o sucesso de comunidades no enfrentamento e recuperação de desastres não são estruturas físicas, mas sociais. Ele cita como exemplo pesquisa do colega Daniel Aldricht, da Universidade Northeastern, EUA, com centenas de comunidades japonesas atingidas pelo devastador tsunami que se seguiu ao forte terremoto de 11 de março de 2011. O estudo revelou que a presença de centros comunitários, bibliotecas, parques e outras infraestruturas sociais reduziram de forma barata e significativa as taxas de mortalidade entre a população mais vulnerável.
"As ondas foram altas demais e ultrapassaram as barreiras, então a partir daí foi a coesão social, como as pessoas das comunidades eram conectadas entre si e as comunidades com os governos que influenciaram na velocidade de sua recuperação", acrescenta. "Então, quando pensamos em mitigação, geralmente pensamos em como construir melhor as coisas. Mas estamos chegando em um ponto em que temos que pensar em como construir melhores sociedades, que tenham mais coesão, mais capital social entre os indivíduos. Isso pode ser potencialmente tão efetivo e importante quanto um melhor ambiente construído".
Mas construir coesão social não é fácil, especialmente em tempos de polarização política. Mais uma vez, podemos ver isso na atual tragédia no Rio Grande do Sul, para o bem e para o mal. Se por um lado testemunhamos uma mobilização nacional para arrecadação de recursos e entrega de doações à população afetada, notadamente nas redes sociais, inclusive com a participação de celebridades, políticos e ativistas de extrema direita usaram estas mesmas redes para espalhar notícias falsas que atrapalham os trabalhos de resgate e desencorajam donativos na tentativa de atingir e prejudicar a imagem dos atuais governos do estado e do país.
"Desastres sempre foram usados politicamente. Geralmente, o incentivo para todo político é conseguir entregar o máximo de ajuda o mais rápido possível. Estudos mostram que, particularmente em sociedades democráticas, quanto mais recursos você entregar, mais dinheiro para recuperação, mais votos isto compra", explica. "Então, para os governos, aqueles no poder, de quem se espera uma resposta efetiva a um desastre, ela é medida em recursos e dinheiro, e isso potencialmente lhes dá votos. Já para a oposição, um desastre é uma oportunidade para minar a credibilidade do governo, para apontar o que está errado, e sempre tem muita coisa dando errado num desastre. Mas é algo que está ficando pior e mais agressivo com a polarização política, especialmente depois da pandemia de COVID-19. Muito da decência que se tinha na hora de misturar política com desastres está desaparecendo".
Incentivos e desincentivos
Mas isso tem a ver com a resposta a desastres. Do lado da preparação para desastres, com suas obras em geral caras, demoradas e de baixa visibilidade, estudos não mostram uma correlação de ganhos políticos com os investimentos, conta Schlegelmilch.
"Os eleitores não recompensam a preparação, mesmo que isso economize mais dinheiro e salve muito mais vidas", lamenta.
Por isso, o especialista defende uma mudança de paradigmas em torno das estruturas de incentivos e desincentivos da preparação para desastres, não só entre governantes, políticos e gestores públicos, mas também outros setores da sociedade: iniciativa privada, organizações não governamentais e humanitárias, academia e a própria população. No caso dos primeiros e últimos, uma solução é mais conscientização sobre a importância da preparação para desastres, e sua consequente valorização tanto por eleitores quanto eleitos.
"O incentivo último para um governante é continuar no poder e, se estamos em um ambiente democrático, isto depende do que os eleitores querem. Posso falar com um governante o dia inteiro. Ele pode gostar do que eu digo, concordar com o que eu digo, mas sua capacidade de ficar no cargo no fim depende do que os eleitores veem como importante", diz. "Então, uma das coisas que precisamos fazer é educar as pessoas sobre o valor da preparação. Outros campos, como a saúde pública, também sempre tiveram este tipo de problema. Como explicar o valor de algo que não aconteceu? Não pegamos pólio. Como explicamos isso para alguém? O valor de que estamos bem, não ficamos doentes? Este é um dos desafios com os desastres".
Segundo Schlegelmilch, uma boa estratégia para isso pode ser simplesmente comemorar quando as coisas dão certo.
"É importante dizer que pudemos manter isto e aquilo funcionando porque fizemos este ou aquele investimento, que pudemos reduzir o impacto do perigo", exemplifica. "Outra boa estratégia é os governantes mostrarem o valor destas propostas, serem claros e engajar os integrantes diferentes das comunidades nisso. Dizer para as pessoas 'ei, este muro grande e feio vai ser construído na margem do rio' e o porquê disto estar sendo feito. Para indivíduos pode ser que isso vai deixar sua casa em segurança, mas para a comunidade de negócios, que o muro vai permitir que continuem trabalhando, ganhando dinheiro. O enquadramento de sua proposta pode mudar de acordo com quem você está falando na comunidade. Mas não acho que estamos fazendo um bom trabalho articulando este valor e sua necessidade".
Assim, mesmo lamentando, o especialista ressalta que o rescaldo de tragédias como a que atinge o Rio Grande do Sul é uma boa oportunidade para comunicar este valor da preparação para desastres e prevenção de danos para todos.
"Infelizmente as pessoas estão sofrendo grandes perdas, mas é um momento que a população está prestando atenção e percebe mais o valor disso", diz. "Então é uma infelicidade que tenhamos um desastre, eu preferia que não houvesse um desastre, mas, como há um desastre, vamos usá-lo como uma oportunidade para explicar o valor de prevenir o próximo desastre".
Já com o setor privado, Schlegelmilch ressalta que, apesar da grande preocupação com o gerenciamento de riscos, no fim são empresas que buscam lucros dirigidas por pessoas que devem satisfações a seus acionistas. Assim, se nas suas contas o custo da preparação e prevenção supera os potenciais prejuízos, seu incentivo é simplesmente deixar o desastre acontecer.
O especialista, no entanto, vê dois problemas nesta matemática. Primeiro que geralmente o cálculo de riscos nela considera apenas o passado e não leva em conta o crescente potencial de eventos disruptivos futuros, seja pelas mudanças climáticas ou uma nova pandemia. Outro que não fatora a dependência que as empresas têm das comunidades onde estão inseridas: se os trabalhadores perderam ou não podem sair de suas casas, não há transporte, combustível, luz, água, indústrias e serviços não funcionam.
"Além disso, este modelo de negócios não valoriza a capacidade ociosa, e este é um problema que vimos na pandemia", lembra. "Se você tivesse capacidade ociosa de fabricar máscaras N95 em 2019, o mercado de capitais ia dizer que você era ineficiente e te punir. Mas, em 2020, esta capacidade seria dinheiro a ser ganho. Então é integrar melhor a incerteza e a crescente probabilidade de desastres nesta matemática".
Outro novo incentivo para o setor privado pode ser enquadrar a preparação para desastres como uma questão de reputação. Schlegelmilch dá como exemplo disso uma foto icônica do panorama noturno de Nova York quando da passagem do furacão Sandy, em que o único prédio iluminado em meio ao blecaute geral é o do banco Goldman Sachs.
"Aquele prédio está aceso porque eles tinham preparação, mitigação", aponta. "Mas se por um lado é algo a se celebrar que eles tinham este nível de preparação, por outro é um dos bancos mais ricos do mundo mostrando que tem uma boa experiência com desastres. É uma propaganda para sua reputação, mas também uma fonte de preocupação".
As organizações sem fins lucrativos, por sua vez, são outros importantes atores na resposta a desastres, preenchendo lacunas ou complementando as ações governamentais. No seu caso, explica o especialista, os incentivos que recebem são como uma mistura dos que atuam sobre governantes e iniciativa privada: entregar o máximo de recursos no menor tempo possível faz bem à sua reputação, o que ajuda a conseguir mais doadores, que devem deixar felizes para que continuem doando. Segundo ele, isso faz com que estas organizações mantenham seu foco na resposta a desastres, em ações que já conhecem, são especializadas e fazem muito bem.
"Os doadores tendem a ser muito passionais, e isso perpetua um ciclo em que elas sempre podem assegurar os recursos para o próximo desastre e o próximo e o próximo, especialmente as maiores, multinacionais", diz.
Não que todas ignorem a importância da preparação. Schlegelmilch relata ter ajudado uma destas grandes organizações a montar um braço dedicado a ações de preparação para desastres. Mas, afora uma doação que seu próprio grupo de estudos conseguiu, não apareceram outros apoiadores e o escritório foi reestruturado.
"Eles sabiam que preparação era importante, mas não conseguiam doadores", lamenta. "Talvez tivessem que ter insistido mais, investido mais? Talvez desistiram muito rápido? Talvez destacado que precisam de ajuda para atender às necessidades de hoje, mas também evitar as de amanhã porque é mais barato e salva vidas? Mas acontece que no fim os doadores são a fonte de vida destas organizações, e sem doadores elas não existem".
Por fim, na academia, o especialista pede mais espaço e reconhecimento à ciência da preparação para desastres, que por seu caráter interseccional e aplicada enfrenta obstáculos num ambiente que prestigia e recompensa descobertas.
OBS: Enquanto termino de escrever este texto, ouço notícia na TV de que o governo federal anunciou R$ 1,7 bilhão em verbas para projetos de prevenção de desastres naturais dentro de seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com foco em projetos de contenção de encostas. Destes recursos, R$ 152 milhões vão para três projetos em duas cidades gaúchas: dois em Porto Alegre e um em Santa Maria. Tarde para ajudar na atual crise gaúcha, mas que não seja para outros locais do país onde deslizamentos de terra são uma ameaça sempre presente, como o Rio de Janeiro.
Cesar Baima é jornalista e editor-assistente da Revista Questão de Ciência