Basta uma busca rápida no YouTube por “how to make a face mask” ou “como fazer máscaras em casa” para encontrar centenas de vídeos com as mais diversas formas de proteção facial, desde as que usam apenas tecido e elástico, até as feitas colando tecidos, usando filtros de café ou até mesmo folhas de acetato com dois furinhos para quem usa óculos (https://www.youtube.com/watch?v=xN0HH2Zb2hY) , (https://www.youtube.com/watch?v=ycwYA5Dt5t0 ) , (https://www.youtube.com/watch?v=DC1jwEmhwBI). A correria para a compra de máscaras se espalhou pelo planeta na mesma velocidade que a pandemia de COVID-19, primeiro com a redução das exportações do principal produtor mundial, a China, e depois o sumiço dos estoques, graças ao pânico da população em geral. Os resultados são, claro, a disparada dos preços – no Brasil, da ordem de absurdos 3.000% – e a falta de máscaras para quem mais precisa, o pessoal na linha de frente do atendimento aos pacientes mundo afora.
As equipes de saúde dos EUA, do Brasil, França, Itália ou qualquer outro país que enfrente a pandemia, queixam-se diariamente da falta dos equipamentos de proteção. Alguns hospitais brasileiros chegam ao cúmulo de alegar que seu uso por todo pessoal de atendimento “assustaria” os pacientes – já apavorados com a doença.
Quando os números de COVID-19 começaram a disparar no Estado de Nova York – que até o último dia de março somava 75.795 casos – e as máscaras começaram a faltar, o Centro de Controle de Doenças Infecciosas (CDC) chocou os americanos ao recomendar que, “em último caso”, as equipes de saúde usassem “echarpes ou bandanas” para cobrir o nariz e a boca, durante o atendimento aos doentes da pandemia.
Diferentes instituições e países adotam diferentes recomendações quando se trata de orientar a população em geral para a proteção facial diante do novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, recomenda que pessoas saudáveis só usem máscara se estiverem cuidando de pacientes com COVID-19, enquanto a maioria dos países orientais recomenda que pessoas com sintomas as utilizem para não infectar as outras, e recomendam que pessoas saudáveis as utilizem em locais com grande concentração humana, como metrô por exemplo.
O problema com o SARS-CoV2 é que 86% dos casos não são diagnosticados – na esmagadora maioria dos países não há testes suficientes para toda população –, mas 78% dos casos são transmitidos por portadores assintomáticos do vírus. Isso está fazendo com que autoridades de saúde pensem em modificar essas recomendações, justamente no momento que as máscaras estão em falta.
Neste último dia de março, os dois principais jornais norte-americanos, o New York Times e o Washington Post, publicaram artigos sobre o uso de máscaras feitas em casa, para a população em geral, enquanto durar a falta das máscaras industrializadas, que são prioritárias para quem trabalha no atendimento aos doentes. Na semana passada, a Associação Médica Alemã recomendou que todos usassem uma máscara simples em público, deixando as máscaras profissionais, padrão N95, para o pessoal médico.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, também quer que todos os com mais 70 anos façam o mesmo. O importante, dizem alguns especialistas, é que elas cubram o nariz e a boca, reduzindo o risco de que gotículas com vírus entram ou saiam.
De quebra, mesmo máscaras simples de algodão, ou mesmo echarpes ou bandanas, diminuiriam as chances de as mãos entrarem em contato com o rosto durante uma ida ao supermercado ou farmácia. Infectologistas só alertam para o risco de a pessoa se sentir tão protegida pela máscara que acabe se descuidando de questões básicas, como lavar as mãos ou usar álcool gel quando isso não for possível.
A ideia ganhou ainda mais força nesta terça-feira quando Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, principal figura do governo federal americano no enfrentamento da pandemia, disse que a força-tarefa da Casa Branca encarregada do combate ao novo coronavírus vem discutindo seriamente a possibilidade de recomendar uso de máscaras para todos.
“O CDC está avaliando a proposta cuidadosamente”, disse em entrevista à CNN americana. “O que queremos é ter certeza que a recomendação não vai provocar uma corrida para a compra de mascaras necessárias para as equipes de saúde”, explicou. “Mas quando tivermos uma quantidade suficiente para todos, vamos pensar seriamente numa recomendação.”
Ruth Helena Bellinghini é jornalista, especializada em ciências e saúde e editora-assistente da Revista Questão de Ciência. Foi bolsista do Marine Biological Lab (Mass., EUA) na área de Embriologia e Knight Fellow (2002-2003) do Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde seguiu programas nas áreas de Genética, Bioquímica e Câncer, entre outros