O Brasil perdeu nesta segunda-feira, último dia do mês de maio de 2021, o jornalista de ciência Maurício Tuffani. Com passagens marcantes e históricas pela chefia da Revista Galileu, pela editoria de Ciência da Folha de S.Paulo e pelo meio acadêmico – onde foi responsável por um esforço heroico da Universidade Estadual Paulista (Unesp), na década passada, para levar a divulgação científica universitária além do mero marketing institucional –, Tuffani vinha se dedicando a seu site pessoal, o Direto da Ciência, e à retomada do trabalho na Unesp.
Alguns membros fundadores do Instituto Questão de Ciência tiveram contato próximo e foram inspirados por ele. Publicamos seus depoimentos como forma de render nossa homenagem.
“Natalia, cuidado com o que você escreve nesse blog, menina, que um dia você vai ser presa”! Essa foi uma das frases que ouvi do querido Maurício Tuffani, no começo da minha carreira como comunicadora de ciência, quando eu ainda mantinha, junto com os colegas de laboratório Luiz Gustavo Almeida, hoje comigo no IQC, e Henrique Iglesias, o blog Café na Bancada.
Tuffani foi o primeiro jornalista a nos encorajar, e a nos pegar pela mão para ensinar, como a rapaziada diz, “os paranauê”. Foi um texto do Henrique sobre a crise hídrica de 2016 que chamou a atenção do jornalista, já então um respeitado veterano da comunicação de ciência. Logo em seguida, com os meus diversos artigos sobre a fosfoetanolamina e nossa aproximação da jornalista Ruth Helena Bellinghini, hoje também no IQC, Tuffani tornou-se um colaborador e mestre sempre presente, sempre aconselhando, e sempre dando o exemplo.
Com sua generosidade característica, Tuffani replicava nossos textos no seu Direto da Ciência. Quando um leitor do “Direto” atacou Ruth, por um artigo que ela havia escrito sobre a fosfoetanolamina, Tuffani não teve dúvida: deu um “print” no comentário do caluniador, fixou-o no topo da página com a seguinte mensagem, em maiúsculas: PROVE O QUE ESTÁ FALANDO SOB PENA DE PROCESSO. A pessoa sumiu, claro, e ele disse que o comentário ia ficar lá, para servir de exemplo.
Anos depois, tive o prazer de tê-lo como convidado na disciplina de Comunicação Pública da Ciência que ofereci no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, em parceria com a professora Lourdes Isaac, e o meu companheiro e editor-chefe da Revista Questão de Ciência, o jornalista Carlos Orsi. Sem slides, sentado o tempo todo por conta de sua dificuldade de locomoção, ele contou histórias do jornalismo científico no Brasil, cativando os alunos, que ficaram encantados, quase sem piscar, por duas horas.
Ouvir o Tuffani, como mestre, como amigo, como professor, foi um grande privilégio. Foi graças também a ele, que me pegou pela mão no começo, que segui meu caminho na comunicação da ciência, e fundei o IQC. Na em última vez em que nos falamos, em 28 de maio, ele me mandou a seguinte mensagem: Natalia, te chamaram para a CPI? A Globonews informou agora! Arrasa, garota!
Só sinto, Tuffani, que por tão pouco você não tenha tido a chance de me mandar outra mensagem, como aquela primeira na época da pílula do câncer, dizendo: “Natalia, toma cuidado com o que você vai falar nesta CPI, menina, que você vai ser presa!”
Prometo que vou tentar arrasar, meu amigo, afinal, foi o Tuffani que mandou. E prometo tentar não ser presa. Obrigada por tudo o que fez por mim, pelo IQC, e pela ciência brasileira.
Natalia Pasternak, microbiologista, fundadora e presidente do Instituto Questão de Ciência
"O Tuffani. Um dos melhores jornalistas de ciência que eu conheço". Ouvi isso diversas vezes ao longo da minha carreira e principalmente quando estávamos planejando o relançamento do Jornal da Unesp, procurando um jornalista para assumir o cargo de editor-chefe. A nossa escolha não poderia ter sido melhor: Maurício Tuffani, em poucos meses, tornou-se o nosso guru. Era engraçado contando "causos" da sua carreira e um porto seguro para responder às nossas consultas.
Para o IQC, sempre foi uma referência e um parceiro. Um dos pioneiros da linha do jornalismo científico que hoje é adotado pelo IQC, sempre estava disposto a conversar e a compartilhar o nosso conteúdo na sua página do Direto da Ciência.
Tuffani, meu amigo, conversamos quase todos os dias nesses últimos meses. Foi um privilégio aprender com você. Poderia ter ficado mais com a gente.
Marcelo Yamashita, físico, fundador, diretor do Instituto Questão de Ciência e atual assessor-chefe de Comunicação e Imprensa da Unesp