Em filmes de terror americanos, como o clássico “O Exorcista”, não é raro haver cenas em que algum personagem resolve brincar com uma tabuleiro ouija – uma peça plana de madeira onde estão gravados números e letras, e sobre o qual se move uma espécie de ponteiro.
Embora o usuário do tabuleiro esteja com as mãos sobre o ponteiro, a impressão é de que esse objeto se move de forma espontânea, selecionando letras e formando palavras segundo a vontade de alguma força sobrenatural. Como se tratam de filmes de terror, o resultado é quase sempre trágico.
A versão brasileira do ouija é a chamada “brincadeira do copo”, em que o tabuleiro com letras gravadas é substituído por uma mesa comum onde se espalham letras rabiscadas em pedaços de papel, e o ponteiro especial, por um copo virado com a boca para baixo. A “consulta” geralmente é feita por um grupo de pessoas que põem, cada uma, um dedo sobre o copo, e assistem enquanto ele – aparentemente – seleciona letras e símbolos “por vontade própria”.
A solução do suposto mistério é a mais óbvia possível: quem move o copo (ou o ponteiro ouija) são as pessoas que estão e contato físico com ele. O que parece espantoso é que, quando essas pessoas dizem que não estão produzindo nenhum movimento de forma consciente, elas (quase sempre) dizem a verdade. Empurram o copo sem perceber. Essa produção inconsciente de movimento é conhecida como efeito ideomotor.
Esse efeito foi descrito pela primeira vez em 1852 pelo psicólogo britânico William Carpenter, e consiste em movimentos musculares involuntários, às vezes imperceptíveis, que respondem às expectativas de quem os realiza. Como escreveu Carpenter, “não é difícil aceitar que ideias sejam a fonte de movimento muscular, de modo independe da vontade e da emoção”. O nome do efeito vem da fusão dos termos “ideo”, como em “ideia” ou “ideologia”, e “motor”, de movimento.
A “brincadeira do copo” não é o único fenômeno que pode ser explicado pelo efeito ideomotor. Ele também aparece, por exemplo, no uso de forquilhas ou hastes metálicas para encontrar água ou minérios. Quando a madeira ou as hastes se “retorcem espontaneamente” nas mãos do operador, elas na verdade estão reagindo a pressões inconscientes e involuntárias dos seus músculos.
Muitas vezes, quando a pessoa utilizando esses instrumentos tem acesso a pistas sobre a localização da água ou do minério que está procurando – por exemplo, por meio da vegetação, do relevo do terreno, da cor do solo – a forquilha ou as hastes podem gerar resultados bastante precisos, graças à assimilação inconsciente desses dados pelo operador.
No entanto, testes duplo-cegos, em que pistas assim não estão presentes e o material a ser encontrado é distribuído de forma aleatória pelo terreno, o número de sucessos tende ao esperado por puro acaso.
O efeito também aparece no uso “esotérico” de pêndulos, quando pequenos pingentes são usados para responder a questões sobre o futuro, ou para adivinhar o sexo de uma criança ainda na barriga da mãe.
Neste tipo de prática, a pessoa que pretende fazer a adivinhação define algum critério de interpretação para o movimento do pêndulo – por exemplo, se ele balançar para frente e para trás, a resposta é “sim” (ou, no caso do sexo do bebê, “menina”); para a direita ou esquerda, é “não” (ou “menino”). Esses critérios são totalmente arbitrários.
A “resposta” do pêndulo será, na verdade, um reflexo ideomotor das expectativas do suposto adivinho. No Brasil, as práticas dependentes do efeito ideomotor, como o uso de forquilhas ou pêndulos para fins esotéricos, são chamadas coletivamente, por quem insiste em tratá-las como fenômenos místicos, de “radiestesia”.
Isso pode parecer uma curiosidade inócua, mas não é: há terapeutas alternativos que usam técnicas de radiestesia, por exemplo, para decidir que remédio ou conduta recomendar ao paciente, por exemplo.
Carlos Orsi é jornalista e editor-chefe da revista Questão de Ciência