Objetos paranormais permanentes

Artigo
30 out 2020
paranormal

 

Como estudar os fenômenos paranormais? Existe uma forma de verificar, de uma vez por todas, a existência de tais fenômenos?

Essas são perguntas que me faço há muitos anos, tantos quanto tenho no mundo dos ovnis. Mas, afinal de contas, tais fenômenos são reais? Até o momento, a resposta parece ser NÃO.

Se existisse a telepatia, por exemplo, não teríamos este auge dos telefones celulares e todos esses meios de comunicação que hoje estamos acostumados, WhatsApp, correios eletrônicos, Instagram, Facebook e demais redes sociais. Simplesmente “conectando-nos telepaticamente” transmitiríamos toda a informação e memes que enchem nossos telefones.

Se existissem o Yeti ou o Pé Grande, seria uma revolução na biologia que, de fato, faria avançar esta ciência e levantaria várias questões na Teoria da Evolução.

Se tivéssemos sido visitados por extraterrestres na Antiguidade, sem dúvida nossos desenvolvimentos tecnológico, social e religioso seriam completamente diferentes dos que temos.

Não precisaríamos de nenhum tratamento médico, equipamentos sofisticados, hospitais, sistemas de seguridade social, vacinas e quaisquer outros avanços que nos deram as pesquisas da medicina moderna. Só seria necessário tomar algumas bolinhas de açúcar, colocar uns cristais de quartzo sobre o torso, deixar-nos espetar com agulhas em diversas partes do corpo ou cantar monótona e interminavelmente algum mantra para ficarmos completamente saudáveis

Como digo mais acima, parece que nada isso, até o momento, funciona. Mas poderia funcionar no futuro? Alguma vez se demostrará a existência dos fenômenos PK (psicocinéticos)? Alguém encontrará a Nessie ou o Chupacabras? O próximo caso de OVNI será, verdadeiramente, o “caso perfeito”?

Como muitos outros que nos aproximamos das mal intituladas “paraciências” (porque de ciências não têm nada), temos demolido e derrubado casos que antes se consideravam “perfeitos”. Penso, em particular, no caso das fotografias da Ilha Trinidade (1), da autopsia extraterrestre (2), da onda de avistamentos de Chupacabras no México (3), dos anéis de óvnis em Hidalgo (4), as faces de Bélmez (5) etc.

Muitos outros céticos explicaram vários outros fenômenos e histórias paranormais. Mas a história nunca acaba. Para cada caso explicado aparecem muitos mais. Realmente, não é uma forma eficaz de fazer uma investigação em nenhum campo. Não obstante, sãs as únicas investigações que foram conduzidas nestes campos, dado que os que acreditam nos fenômenos paranormais não fazem nenhuma, só se dedicam a colecionar casos que, supostamente, respaldam suas crenças no paranormal.

E é porque o mundo do paranormal está de cabeça para baixo. Os que acreditam em óvnis, no oculto, na psicocinese, nos fenômenos anômalos, são quem deveria demonstrar a existência dessas coisas, mas, no lugar disso, só aportam uma série interminável de relatos, casos, informes e histórias que, para eles, representam as provas da existência de seus fenômenos paranormais favoritos. Mas nem mil informes de avistamentos de objetos voadores não identificados servem para demostrar sua existência, nem um milhão.

Muitos ufologistas falam de “evidências”, de “provas”, mas não têm idea do que estão falando. Um  informe da pessoa mais veraz, honrada, preparada, ainda que pertença às Forças Armadas, vá todos os domingos à missa, seu avô seja bombeiro e tenha a carteirinha do Clube do Mickey, seja vegano (ou carnívoro), nascido em 29 de fevereiro, passado por três testes no polígrafo e jurado ante a Torá, o Corão ou a versão da Bíblia do Rei James (todos em fila e ate o último quadrinho de Stan Lee); um informe, repito, não serve de nada, só tem valor anedótico, não é nenhuma “prova”.

Tampouco é uma “evidência” se, além de seu relato, apresenta uma fotografia do objeto voador que diz ter observado. Pouco importa se, no lugar de fotografias, o que nos mostra são vídeos. Simplesmente porque tanto fotografias como vídeos podem ser manipulados. E ainda que não tenham sido, só desviam o debate, porque agora a pergunta ou a investigação se dirige a determinar a veracidade destas fotos ou vídeos. Talvez não tenham sido manipulados, trucados, mas mostram uma “nave” de outro mundo ou algum fenômeno natural (ou artificial, feito pelo homem) que não é fácil de ser identificado?

Bem, como os crentes (ou crédulos?) nos fenômenos paranormais não puderam demonstrar suas alegações, e os céticos não são tantos, nem têm tempo para explicar um a um cada relato que vem à luz, claramente a estratégia para estudar os fenômenos paranormais deve ser diferente.

No caso da parapsicologia, o Dr. John Beloff (6) se deu conta disso. Durante anos a forma “acadêmica” de abordar o estudo dos supostos fenômenos de psicognose (PG) e psicocinese (PK) foi por meio de métodos estatísticos, mas as manipulações e fraudes que aconteceram no manejo dos dados nos laboratórios de Joseph Bank Rhine (7) despertam muitas suspeitas. Além disso, por este meio nunca se chegaria a uma conclusão irrefutável. Os fenômenos de PG são muito subjetivos e muito difíceis de estudar, mas a ação da mente sobre a matéria, em princípio, deve deixar uma evidência tangível e mensurável. Foi por isso que o Dr. Beloff propôs o conceito do Objeto Paranormal Permanente (OPP).

Em essência, o OPP é aplicável só em fenômenos PK, algo na matéria (um Objeto) que foi modificado por meios mentais e não físicos (Paranormal), que além disso possa ser analisado hoje/aqui ou amanhã/ali (Permanente).

No século 19 alguns médiums produziam “provas” como correntes com elos de diferentes materiais (madeira, aço, cobre, ferro) que eram uma só peça (se supõe que os anéis de madera não estavam colados, e os elos de metais não estaval soldados). Estas correntes eram verdadeiros Objetos Paranormais porque não existia (e creio que não existirá) um processo natural/artificial que os possa fabricar; mas não eram Permanentes, porque desapareceram ao entrar o século 20 (com toda sua tecnologia de raios X, etc., que poderia dar uma pista se, de fato, não estavam colados ou soldados).

Para Beloff, só havia três possíveis OPPs: o sudário de Turim, a manta de Juan Diego e as faces de Bélmez. Pouco tempo depois, Beloff retirou o sudário, ao conhecerem-se os resultados da datação com Carbono 14 (8). A imagen da Virgem de Guadalupe, por seu lado, o mais provável é que tenha sido pintada pelo índio Marcos Cipac de Aquino (9), enquanto as faces de Bélmez são muito provavelmente também uma fraude combinada com pareidolias (10).

No caso da parapsicologia, a questão permanece em aberto. Até o momento, não se apresentou um verdadeiro OPP.

Mas podemos estender a idea de Beloff a outras pseudociências. Desta forma, podemos ter um Objeto Criptozoológico Permanente (OCP) que seria qualquer animal críptico (desde o unicórnio até Mokèle-Mbèmbé). O Objeto Astroarqueológico Permanente (OAP), neste caso uma peça de engenharia dos “Astronautas Antigos”. Ou o Objeto Ufológico Permanente (OUP) (11), que propus faz alguns anos. O OUP seriam os extraterrestres (ou sua pele, cabelo, unhas, lágrimas, saliva, sangue, sêmen, cerume ou qualquer outro objeto que possa ser analisado e que se comprove que seu DNA é distinto de qualquer outro encontrado na Terra), ou o próprio disco voador.

Há Objetos Paranormais Permanentes para qualquer outra pseudociência de sua preferência.

Já diziam David Hume (12), Marzelo Truzzi (13) e Carl Sagan (14): “afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias”.

Se alguém me diz que pode converter dois dos produtos mais corrosivos em substâncias comestíveis, exigirei que apresentasse uma prova extraordinária do mesmo calibre de sua afirmação. Neste caso, o Objeto Paranormal Permanente seria as substâncias químicas transformadas em substâncias inertes. Quem propõe isso teria que demonstrar hoje em Chicago, amanhãna na Cidade do Cabo e qualquer outro dia em Moscou. Mas, neste caso, existe este OPP, e qualquer uma pode demonstrar em qualquer lugar e tempo. Uma representação disso é:

HCl + NaOH ---------˃ H2O + NaCl

Agora o trabalho dos crentes está mais fácil, e já lhe demos a tarefa: só mostrem o OPP correspondente e poderam demonstrar sua pseudociência predileta.

Referências:   1) http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-ovni-de-la-isla-trinidad-primera-parte/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-ovni-de-la-isla-trinidad-y-2/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-ovni-de-la-isla-trinidad-y-3/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-ovni-de-la-isla-trinidad-final/

2) http://www.lulu.com/shop/luis-ruiz-noguez/la-autopsia-extraterrestre-un-mito-dentro-del-mito/paperback/product-24143997.html?ppn=1

3) http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-chupacabras-primera-parte/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-chupacabras-2/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-chupacabras-y-3/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/07/el-chupacabras-fin-del-capitulo-mexicano/

4) http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/09/aterrizaje-en-tula-un-cuento-de-hadas/

http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/09/los-anillos-de-atitalaquia/

5) Tort J. Cesar & Ruiz Noguez Luis, Are the Faces of Bélmez Permanent Paranormal Objects?, Journal of the Society for Psychical Research, Vol. 59, No. 832, July 1993, págs. 161-171.

6) Beloff John, Research strategies for dealing with unstable phenomena, Parapsychology Review, Vol. 15, No. 1, Parapsychology Foundation Inc., New York, Jan-Feb 1984, págs. 1-7.

Beloff John, The Relentless Question: Reflections on the Paranormal, McFarland, Jefferson, N. C., 1990.

7) Kurtz Paul (ed.), Skeptical Odysseys, Prometheus Books, 2001, Chapter 31: Confessions of a Skeptic por Martin Gardner.

8) https://es.wikipedia.org/wiki/Sudario_de_Tur%C3%ADn

9) https://es.wikipedia.org/wiki/Marcos_Cipac_de_Aquino

10) Tort J. César, Ruiz Noguez Luis, Are the faces of Bélmez permanent paranormal objects?, Journal of the Society for Psychical Research, Vol. 59, No. 832, 1993, pags. 161-71.

11) http://marcianitosverdes.haaan.com/2006/11/ufologia-%C2%BFuna-ciencia-final/

12) https://es.wikipedia.org/wiki/David_Hume

13) https://es.wikipedia.org/wiki/Marcello_Truzzi

14) https://es.wikipedia.org/wiki/Carl_Sagan

Luis Ruiz Noguez é membro fundador da Sociedade Mexicana para a Investigação Cética, coeditor da revista Perspectivas Ufológicas e colaborador de várias revistas de OVNIs. Publica o blog Marcianitos Verdes e publicou vários livros sobre OVNIs e extraterrestres. Este artigo foi publicado originalmente na Revista Pensar

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