Ano de 2023 bate recorde de retratações, aponta “Nature”

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15 dez 2023
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Levantamento conduzido pela revista “Nature” indica que em 2023, até o fim da primeira semana de dezembro, houve mais de 10 mil retratações de artigos científicos. “Retratação” é o nome dado ao ato de remover uma publicação da literatura científica, uma medida drástica que pode ter várias causas – de um erro honesto cometido pelos autores, mas só detectado após a publicação, chegando até a plágio ou fraude.

Ainda de acordo com os números divulgados pela “Nature”, em 2022 a taxa de artigos retratados ficou em 0,2% do total de trabalhos publicados, ante 0,05% no início do século. A taxa de crescimento das retratações já supera a de novas publicações: estima-se que o volume total da literatura científica dobre a cada 17 anos, aproximadamente, enquanto a taxa de retratações quase quadruplicou na última década.

O grosso das retratações de 2023, mais de 8 mil, veio de periódicos científicos mantidos por uma mesma editora, a Hindawi, parte do grupo Wiley, especialmente em edições especiais sob a responsabilidade de editores convidados. A Wiley anunciou no início do mês que deixará de utilizar a marca Hindawi e está agindo para eliminar “centenas de agentes maliciosos” de sua lista de colaboradores, segundo nota da “Nature”.

A explosão no número de retratações  reflete tanto um aumento no número de publicações espúrias, graças à proliferação das “fábricas de papel” que oferecem artigos falsificados a cientistas que buscam inflar artificialmente seus currículos, quanto uma maior atenção crítica da comunidade científica para com a qualidade do material publicado, principalmente graças à atividade de “detetives de dados” que identificam problemas como plágio, falsificação de figuras, etc.

Ano passado, Ivan Oransky, criador do site Retraction Watch, estimou que a taxa de retratação ideal, caso realmente houvesse disposição de limpar a literatura dos resultados inválidos ou fraudulentos, deveria estar em torno de 2%, ou um artigo em cada 50 publicados. Segundo Oransky, os sistemas e processos de retratação em geral ainda são “comicamente desajeitados, lentos e opacos”. Às vezes passam-se anos entre o surgimento de evidência clara de que um resultado é espúrio e a retratação formal. Enquanto isso, muitos dos artigos que deveriam ser retratados - ou mesmo alguns que até foram, mas demoraram a ser - continuam sendo citados e usados como referência em outros estudos, "poluindo" a literatura científica.

Carlos Orsi é jornalista, editor-chefe da Revista Questão de Ciência, autor de "O Livro dos Milagres" (Editora da Unesp), "O Livro da Astrologia" (KDP), "Negacionismo" (Editora de Cultura) e coautor de "Pura Picaretagem" (Leya), "Ciência no Cotidiano" (Editora Contexto), obra ganhadora do Prêmio Jabuti, "Contra a Realidade" (Papirus 7 Mares) e "Que Bobagem!" (Editora Contexto)

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