COVID-19 matou quase 15 milhões entre 2020 e 2021, 681 mil no Brasil

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27 dez 2022
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vírus

 

A pandemia de COVID-19 matou quase 15 milhões de pessoas entre 2020 e 2021, aponta cálculo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado recentemente na revista científica Nature. Baseado no conceito de excesso de mortes, o número é mais de 2,7 vezes as 5,4 milhões vítimas fatais oficialmente registradas em todo mundo no período, e poderia ter sido muito maior não fosse a vacinação. Isto porque outro estudo, publicado na prestigiada revista médica The Lancet, estima que a aplicação das vacinas entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021 evitou quase 20 milhões de mortes em excesso, no mundo todo, no período.

Com relação ao Brasil, a OMS calcula um excesso de cerca de 681 mil mortes de 2020 a 2021 devido à COVID-19, não muito longe das quase 619 mil reportadas pelo país no biênio. Já o estudo sobre o impacto da vacinação indica que, não fossem os imunizantes, o Brasil teria registrado quase 1,05 milhão de mortes excedentes no período analisado, ou seja, mais de 1 milhão de vidas foram salvas com a aplicação ao longo de 2021.

Apesar das limitações, o levantamento da OMS deixa claro o impacto da pandemia no mundo, e especialmente nos países de renda média da América Latina. Nada menos que quatro das cinco nações com maior aumento proporcional na mortalidade em razão da COVID-19 estão na região. A liderança é do Peru, onde a doença teria quase dobrado o número de mortes esperadas para o biênio não fosse a pandemia, deixando cerca de 290 mil vítimas, numa alta de 97%. A seguir vêm Equador, Bolívia e México, com excedentes de 50,5%, 48,8% e 41,3% nas mortes, respectivamente. Já o Brasil ficou na 23ª posição, com uma elevação de 24,2% nas mortes em 2020-2021.

Isso não quer dizer, no entanto, que a COVID-19 tenha poupado os países de baixa renda, tampouco os ricos. No primeiro caso, os cálculos foram prejudicados pela falta de dados sobre mortalidade por todas causas nos anos anteriores à pandemia. Já no segundo, os números refletem os diferentes níveis de sucesso, e fracasso, no enfrentamento da crise sanitária em algumas das nações mais privilegiadas do planeta. Enquanto em países como Nova Zelândia, Austrália, Japão, Islândia e Noruega os cálculos da OMS apontam que morreram menos pessoas que o esperado para o biênio, Estados Unidos, Itália, Reino Unido e Espanha tiveram excessos de mortes de 2020 a 2021 que ficaram entre 15,1% - totalizando mais de 932 mil pessoas - no caso do primeiro e 11,9%, ou quase 104 mil pessoas, no do último.

“Embora as inferências feitas por Msemburi e colegas não sejam as ideais, não há alternativas óbvias. Por mais especulativas que sejam estas estimativas, a maioria delas com certeza está mais próxima da verdade do que os números oficialmente registrados de mortes por COVID-19”, destaca reportagem da Nature que acompanha o estudo da OMS. “Basear-se nas mortes confirmadas seria presumir que a pandemia poupou os países de baixa renda e média-baixa renda – populações vulneráveis que têm capacidade limitada de testagem e resposta. Esta presunção é altamente implausível, e mesmo irresponsável”.

O texto ressalta ainda que, dada a complexidade deste tipo de cálculo, tentativas similares de estimar o impacto real da pandemia no mundo produziram resultados bem diferentes. Ele cita como exemplo estudo do Instituto de Métricas e Avaliações sobre Saúde (IHME, na sigle em inglês) da Universidade de Washington, EUA, que apontou 18,2 milhões de mortes em excesso para o mesmo período do levantamento da OMS, assim como cálculos da revista The Economist, que chegaram a 16 milhões.

“Isto faz da estimativa da OMS a mais conservadora das três”, acrescenta a reportagem. “Comparada com estes outros estudos, a abordagem adotada por Msemburi et al. é mais simples, e suas estimativas das incertezas, mais rigorosa”.

Por fim, a matéria na Nature frisa que diante do fato de a idade ser um fator de risco de morte por COVID-19, o próximo passo neste tipo de pesquisa deverá ser incluir dados sobre faixa etária, o que os pesquisadores da OMS já estaria providenciando.

“Como os autores calcularam o excesso de mortalidade para as populações como um todo, qualquer diferença entre os países é afetada por variações na sua demografia etária”, argumenta. “Tem havido tentativas de ranquear as respostas dos países à pandemia (incluindo este estudo) estimando o número total de mortes, mas, sem dados sobre idades, qualquer avaliação de diferenças na severidade da pandemia ou na eficácia das respostas a ela será enviesada”.

 

Cesar Baima é jornalista e editor-assistente da Revista Questão de Ciência

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