Estrangulamento da ciência compromete soberania

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25 out 2021
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Um governo que deixa de investir em ciência condena seu povo ao atraso e à dependência em relação ao conhecimento gerado por outros povos. A pandemia de COVID-19 representa um exemplo prático dessa constatação. Investimentos em ciência e sua posterior aplicação em tecnologia, realizados ao longo de décadas, possibilitaram acumular conhecimentos que permitiram tratar pacientes, reduzir o número de mortes e controlar a pandemia por meio de vacinas. Sem esses investimentos, a elevada quantidade de mortes teria sido ainda mais catastrófica. O exemplo aplica-se a vários setores: aos problemas da fome e da produção de alimentos, das mudanças climáticas, da economia, da medicina, do uso de energia e, igualmente importante, à concepção dos seres humanos sobre si mesmos.

Países que investem em ciência exibem maior desenvolvimento tecnológico, de inovação e humano. Países que investem acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em Ciência e Tecnologia são os mais desenvolvidos, incluindo Suíça, Suécia, Japão, Áustria, Alemanha e Dinamarca. Um segundo grupo, incluindo China, Bélgica, Finlândia, Estados Unidos, França, Holanda, Noruega e Islândia, investe, atualmente, entre 2% e 3% do seu PIB em Ciência e Tecnologia.

No Brasil, o já reduzido orçamento das principais agências federais de fomento à pesquisa caiu à metade apenas entre 2016 e 2020 (ver gráfico). As universidades brasileiras, particularmente as públicas, maiores geradoras de conhecimentos científicos e tecnológicos no país, dependem desses investimentos para formar pessoas capazes de contribuir para o desenvolvimento cultural e a independência intelectual do país. A formação desses profissionais, mestres, doutores e pós-doutores, depende de recursos da Capes e do CNPq, sob a forma de bolsas de estudo. Já o financiamento dos projetos de pesquisa permite o funcionamento dos laboratórios, a compra de materiais e reagentes, e de equipamentos utilizados nas pesquisas.

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A absurda redução dos já escassos investimentos brasileiros, promovida pelos governos federais desde 2015 (ver gráfico), representa um golpe fatal na ciência brasileira e condenará as futuras gerações a depender de outros povos, a preços extorsivos, para a solução dos nossos problemas.

Alega-se que a presente redução dos investimentos em ciência e tecnologia decorre da crise financeira no Brasil. Porém, a redução do percentual de investimentos em ciência e tecnologia foi muito maior do que a própria redução do PIB (ver gráfico). Ou seja, a crise atual está sendo utilizada como desculpa (esfarrapada) para cortar o orçamento destinado à ciência. A decisão de retirar recursos da ciência é política, não econômica.

Essa política nefasta aumentará a dependência do Brasil em relação ao conhecimento científico gerado por outros povos. Consequentemente, aumentará também nossa dependência financeira, levando a uma pilhagem das nossas riquezas e a maior exploração do trabalho do nosso povo.

Em nosso rumo iminente ao desastre, o governo federal acaba de cortar mais R$ 600 milhões do orçamento do CNPq, recursos que seriam utilizados para Ciência e Tecnologia. Como prejuízo imediato, ocorre uma “fuga de cérebros”: cientistas competentes buscam trabalho no exterior, e outros desistem de suas carreiras acadêmicas. A redução do fomento à ciência compromete a capacidade instalada, sucateando os laboratórios a médio e longo prazos. Esse tipo de sabotagem destrói nosso futuro como nação e como país. Por isso precisamos defender #SOSCIENCIA.

André Frazão Helene e Gilberto Fernando Xavier são professores do Instituto de Biociências da USP

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