A homeopatia, enquanto prática médica ou de saúde reconhecida pelas autoridades, bate em retirada em todo o mundo. Inglaterra e França deixaram de considerá-la digna de cobertura no sistema público. Na Austrália, o Conselho Nacional de Pesquisa Médica produziu extenso relatório demonstrando que não há tratamento homeopático eficaz para nenhum tipo de problema de saúde. Na Espanha, o governo luta, há anos, para retirar os produtos homeopáticos do rol oficial de medicamentos da União Europeia.
Na Alemanha – berço da prática e terra natal de seu criador, Samuel Hahnemann – médicos insurgem-se contra ela. Nos Estados Unidos, normas de proteção ao consumidor exigem que medicamentos homeopáticos alertem o paciente de que não há evidência de que funcionem.
Esse movimento global não é, como alardeiam os paranoicos, fruto de uma grande conspiração da indústria farmacêutica “alopática”, faminta por lucros (a indústria farmacêutica homeopática não tem base filantrópica e nem rasga dinheiro, caso alguém esteja se perguntando).
É resposta a pelo menos um século de evidência científica acumulada, tanto a respeito da implausibilidade de princípios homeopáticos como o das diluições infinitesimais, quanto à ineficácia da técnica: teste após teste, quando os controles são corretamente aplicados e a execução é competente e imparcial, a homeopatia falha em se mostrar melhor do que um placebo – uma ficção de tratamento.
Em meta-análises dos resultados de tratamento homeopáticos vemos, curiosamente, que os melhores trabalhos – o padrão é o estudo randomizado duplo cego – mostram que, quanto mais recentes os estudos, cada vez menos eficácia aparece. Uma revisão sistêmica, publicado por Mathie e colaboradores, em 2014, na Systematic Reviews, mostra a dificuldade de encontrar estudos adequados com base evidenciária científica. Existem ensaios que usam linguagem pretensamente científica para dizer que homeopatia é útil, mas não se sustentam mais, uma vez frente ao que é considerado método científico.
Um argumento que era pertinente, na época em que remédios como mercúrio, sais de prata e sangria eram usados, é que os medicamentos homeopáticos, com as diluições de uma molécula por piscina, não eram tóxicos. De fato, não eram... mas nem por isto funcionavam...
Em todos esses países em que esses fatos científicos passaram a ser levados a sério nas políticas públicas de saúde e direito do consumidor, é possível encontrar profissionais de Medicina na linha de frente dos movimentos que, depois de muita luta, acabaram sendo responsáveis por esclarecer o público e preservar o erário.
Uma exceção notável é o Brasil. Aqui, não só a homeopatia ainda goza de privilégios na saúde pública e nas escolas de Medicina, como todo o trabalho de explicar ao público em geral as falácias em que a prática se sustenta é conduzido por físicos, biólogos, até jornalistas – enquanto que a profissão médica se divide entre a estridência dos homeopatas e o silêncio ensurdecedor dos demais.
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Carlos Orsi é jornalista e editor-chefe da Revista Questão de Ciência
Jacyr Pasternak é médico infectologista e pesquisador